Já acreditei em sincronicidade
e deixei de acreditar. Quando acreditei, as coisas aconteciam de forma
surpreendente. Mas em alguns momentos de racionalidade extrema me pus a duvidar
da magia da vida. E tudo se desfez como que por encanto reverso. Não era
racional, não era científico e, portanto, não deveria ser real. Mas como não
podia ser real o que se sentia com maior intensidade? Essa dúvida fez com que,
tempos depois, eu tornasse a acreditar ainda mais fortemente na sincronicidade.
Foi quando me prometi em crer sempre na não aleatoriedade dos acontecimentos em
nossa volta. Foi também quando fui mais feliz.
Mas as tempestades da vida acabam minando
nossa fé e quando passamos a duvidar parece que tudo passa a duvidar de nós
mesmos. Nos últimos dias, mesmo tendo recebendo notícias que são do tipo que
acabam com os encantos, me lembrei de minha promessa e uma série de eventos me
fizeram voltar a perceber que crer na sincronicidade, na não aleatoriedade, nos
planos de Deus, é um pré-requisito para viver plenamente. Sem isso, o que
chamamos de vida é uma dissimulação nossa. Fazemos de conta que vivemos, mas
apenas cumprimos um destino destituído de qualquer encantamento, de qualquer
surpresa, daquilo que nos tira o ar, do que faz nossas pernas tremerem
nervosamente e nosso coração acelerar. Certamente é mais seguro. E também mais
triste. E sem alegria de que serve (mesmo) viver? De que serve essa suposta
segurança?
Ao tentar deixar a
sincronicidade fluir, experimentei novamente o fator surpresa. Não que tenham
sido experiências colossais, na verdade foram coisas bem simples que muitos
teimarão em dizer que trata-se de aleatoriedade, de acaso e até de algo insignificante.
Bem, cada um pode ter sua opinião, sem julgamentos, mas também quero ter a
minha. Quero ter a alegria de uma criança que se surpreende com as pequenas
coisas todos os dias. Quero a certeza do não ter certezas. Quero acreditar na magia
que faz com que um gesto apenas mude a vida inesperadamente. Não querer essas
coisas é quase sinônimo de não querer viver. Sei que virão momentos de
fraqueza, de dor, de desilusão, de racionalismo extremado, que vão me tirar a
energia do ter fé, mas eu quero viver, aprendi a querer viver mesmo quando tudo
parece não ter saída.
Mas deixe-me voltar às
pequenas, prazerosas e surpreendentes experiências que fiz ao sabor da
sincronicidade. Na primeira delas, um amigo me disse que eu deveria ser mais
generoso comigo mesmo. Não me culpar tanto, não me julgar tanto, não levar tão
a sério os julgamentos que fazem de mim, até porque certamente tudo está ligado
aos julgamentos que faço dos outros. Esse amigo me falou ainda que preciso fazer
as pazes com minhas "sombras". Todos temos nossos defeitos, nossas
imperfeições. Obviamente precisamos corrigir muitos desses defeitos, dessas
imperfeições, e quando outras pessoas dão destaque a esses defeitos e
imperfeições, talvez seja a nossa oportunidade de refletir sobre nosso lado
obscuro e quem sabe assim nos reconciliar com ele. Todos merecemos perdão,
todos precisamos ser generosos conosco mesmos. Saí pensando sobre isso e no dia
seguinte, tendo resolvido todos os compromissos a que tinha me disposto a
resolver naquela tarde, acabei chegando bem mais cedo à aula de yoga. Peguei
uma revista sobre yoga e ao acaso (acaso!?) ao ler as reportagens, parei,
surpreso, em uma que falava exatamente sobre as nossas "sombras" e
sobre fazer as pazes com nossas "sombras". Descobri inclusive que
este é um conceito famoso do Jung e meu amigo também havia falado sobre esse
grande psicanalista que é justo quem defende a tal da sincronicidade. Pode
parecer ingênuo de minha parte... que seja, mas a alegria de perceber a ligação
de fatos que até então eu nunca havia ouvido falar, isso em menos de 24 horas e
justo quando me comprometi em acreditar mais nessa magia da vida, bem, essa
alegria é daqueles sentimentos que fazem a gente querer estar vivo.
A segunda experiência que vivi
também esteve associada a conseguir resolver rapidamente coisas que normalmente
demorariam, tais como agendamento de exames e consultas médicas. Além disso o
trânsito de Recife parece que resolveu colaborar e a fila do banco simplesmente
não existia. De repente me vi com mais de uma hora e meia de folga para o meu
próximo compromisso. Um shopping perto e algo me disse para atravessar a rua e
entrar no complexo de lojas. Não tinha nada para fazer, mas também não tinha
nada a fazer lá. Mas, "vamos lá", pensei eu. Andando pelo shopping a
esmo, me lembrei que nele havia uma livraria da qual gosto. Achava que ela era no
terceiro ou quarto piso (sempre me confundo nesse shopping) e quando estou a
caminho descubro que ela fica no segundo piso. Quando entro na livraria
procurando as novidades, meu telefone toca. Sinceramente nem lembro quem ligou
e qual era o assunto, mas a ligação me tirou a atenção dos lançamentos e,
distraidamente, me deparei com o livro "Querido John". Me falaram
muito desse livro e do filme nele baseado, e embora esteja a meses com o dvd do
filme em casa nunca o assisti, por razões diversas. Pensei em comprar o livro,
mas deixei pra lá. Continuei a ligação, saí da livraria e fui até o último piso
do shopping sem fazer absolutamente nada. Mas a imagem do livro não me saia da
cabeça. Voltei à livraria e comprei-o. Em uma tarde li quase a metade dele. A história
de como John conhece Savannah e de como o encantamento surge pouco a pouco
entre os dois me deixou impactado por razões também diversas. Não sei como a
história vai continuar. Estou exatamente no trecho em que eles descobrem que
estão amando pela primeira vez na vida. John percebe que Savannah é o que de
melhor já aconteceu na vida dele e ele sabe disso porque ele apenas sabe disso.
É a certeza que vem do coração. Impulsivamente ele diz que a ama e ela
corresponde dizendo que também o ama. Eles se conhecem a apenas quatro dias,
mas eles têm certeza. E a forma como o Nicholas Sparks, autor do best seller, narra
o encontro dos dois é perfeitamente crível. É o tipo de história que eu
gostaria de contar um dia em um livro. E se eu conseguir começar meu próprio
livro esse ano, compromisso assumido no final do ano passado comigo mesmo, como
parte de uma atividade que fiz, certamente será por ter,
"coincidentemente", me deparado com o livro que parecia insistir em
ser lido. Vi que a magia do encontro, é a verdadeira magia da vida.
Algo me diz que será
inevitável ao menos uma postagem sobre o livro e o sobre o filme também, que
vou assistir sim, mas só depois de terminada a leitura...
Por fim, a terceira
experiência foi das mais singelas. Meio-dia deste sábado, olho para o céu e
para minha surpresa lá está ela, a lua. De certo que vez ou outra se vê a lua
ainda de dia, mas sempre no final da tarde, mas insisto que era meio-dia.
Pensei: por que você está aí a uma hora dessas? Quem já leu outras postagens
minhas sabe desse meu encantamento pela lua. Mas ela não me respondeu. Há
tempos que não conversamos. De certo que alguém que entenda da física celestial
me dará uma explicação científica-racional para o aparecimento da lua àquela
hora. Mas meu coração insiste em buscar algo mais. Talvez eu nem me lembrasse
da pergunta que fiz à lua, mas aí a resposta me veio horas depois. Neste sábado,
durante o dia, morreu Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na lua. E
durante o dia a lua no céu parecia estar a sua espera. Ele que tocou a lua
literalmente e que, quero imaginar, passou toda a sua vida com saudade dela,
enfim, estava indo ao seu encontro. O formato da lua lembrava o de um grande
sorriso, meio que na lateral e em minha mente imaginei Armstrong chegando
novamente à lua e ela com esse sorriso de braços abertos para abraçá-lo. (:
Eu sempre costumo pesquisar
alguma foto no google imagens para ilustrar minhas postagens, mas hoje decidi
exercitar outras linguagens que não só as palavras, encorajado que fui pelo
encontro com o amigo que me falou para ser generoso comigo mesmo. Assim,
resolvi eu mesmo fazer meus desenhos daqui para frente. Depois, quem sabe dê
para se fazer alguma análise de mim por esses desenhos? E como primeiro
desenho, nada mais oportuno do que imaginar o encontro da lua com Armstrong,
astronauta no qual me vejo, me projeto e me personifico.
Quem sabe nas próximas postagens
eu não descreva outros eventos tão mágicos quanto uma conversa, um livro e uma
lua.
Sincronicidade...
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