sábado, 31 de dezembro de 2011

Réveillon com Duas Moedas: Despertar (último post de 2011)

Não fosse meu amigo Marco Antonio, que aliás resolveu fazer aniversário no último dia do ano (parabéns Marco!) e que me deu uma puxada de orelha a pouco, acho que iria virar o ano sem que o blog tivesse ao longo de todo esse mês de dezembro ao menos uma postagem. Mas no apagar das luzes, meio que entre a correria dos preparativos dos comes e bebes para o réveillon, estou tentando escrever algo.

Hoje pela manhã, bateu uma vontade de rezar um pouco. Esses períodos rituais de transição me deixam mais propensos a pensar nas coisas de Deus. Enquanto rezava, resolvi não seguir as leituras programadas para o dia pela liturgia católica, e abri a bíblia em um trecho aleatório. Lá pude reencontrar a viúva pobre que, no templo, oferece duas míseras e insignificantes moedas, olhada inclusive de soslaio pelos mais poderosos que ofereciam pequenas fortunas. Jesus repreende esses últimos dizendo que a mulher havia oferecido muito mais que eles, pois ela deu tudo que possuía enquanto eles davam do que lhes sobravam, provavelmente inclusive, fruto da exploração de mulheres como aquela viúva. Pois é, Jesus era bom de estatística, pois em termos relativos, percentuais e não em freqüências absolutas ou nominais, a mulher superava em muito o quesito “ofertar” em relação aos que se julgavam já salvos.

Fiquei a pensar se poderia fazer alguma relação entre essa passagem do evangelho de Lucas e esse período de final de ano. Algo que me ajudou a refletir foi que, na postagem de uma amiga de facebook, descobri que réveillon vem de um verbo francês que significa “despertar”. Assim, percebi que a repreensão de Jesus é também um convite a um réveillon mais particular, mais interiorizado, mais humano, mais solidário. É um convite para que despertemos de nosso comodismo, de nossa falta de solidariedade para com as pessoas, de nosso egoísmo.

Nesta noite de festa e de banquetes ao redor de todo o mundo, é importante que paremos um pouco para pensar na situação das pessoas que não se sentem alegres para festejar, que não têm o mínimo necessário a uma refeição decente, que estão sós, deprimidas, tristes, fracas na fé.  Talvez esse pensamento “desperte” em nós sensações que acabem por nos movimentar a tentar fazer algo, por menor que seja, para melhorar a vida das pessoas que mais precisam de nossa ajuda.

Dirão que esta é mais uma mensagem dessas politicamente corretas, que pela Internet é muito fácil ser militante de causas sociais e aquela velha lenga-lenga que faz com que as pessoas nem mais pensem, apenas vivam, ou melhor, sobrevivam. Está bem, é uma mensagem como tantas outras, até certo ponto  padronizada, homogeneizada , pasteurizada. Mas enquanto houver pessoas que tem que dar tudo o que possuem enquanto outras abdicam apenas de parte do que lhes sobra, então o mundo continuará precisando ser alertado de qualquer forma sobre essas desigualdades, e assim, até essa postagem de blog está valendo.

Como última reflexão sobre o réveillon/despertar, faço aqui memória das postagens em que narrei o meu despertar para as belezas da natureza, capitaneado pela lua, hoje crescente. Que a lua me ajude também em 2012, com suas histórias sobre as pessoas que ela observa, a aprender cada vez mais sobre a natureza humana, sobre a bondade humana, sobre o amor humano, amor divinamente humano. Estou tentando, nessas listas que sempre fazemos ao final do ano, me comprometer em ao menos começar a escrever um livro. Sonho antigo. A ideia tem muito a ver com o que a lua me ensinou, me mostrou, me contou. Detalhes? Bem, isso agora só em 2012, pois os fogos de artifício que ecoam em sons e luzes  já anunciam a chegada de 2012.

Seja bem vindo novo ano que se inicia,
Que traga sempre consigo uma boa companhia.

(Riminha bem bestinha, mas de coração)

Feliz Ano Novo!!!

domingo, 27 de novembro de 2011

Festa Vermelha e Branca

E os profetas de plantão chegaram a prever que o time do Náutico era sério candidato ao rebaixamento para a Série C... 
Agora estão calados ou fazendo de conta que não estão preocupados com a ascensão do CNC. Mas é mesmo motivo de preocupação e por isso precisam tentar menosprezar a torcida alvirrubra, afinal de contas um time sem elenco milionário, sem ajuda financeira do Clube dos 13, e que consegue fazer uma campanha estável, permanecer muitas rodadas no G4, ser vice-campeão, jogar a última rodada sem absolutamente nenhuma preocupação por já estar classificado a mais de uma semana, nao perder um único jogo em casa e ter o artilheiro da competição...
O meu timbu voltou e não foi só para a primeira divisão não, foi para disputar de igual pra igual, mesmo com aqueles que, com artimanhas e jogo político sujo tentaram barrar o crescimento dos demais times de Pernambuco, impedindo que tivessem acesso aos mesmos recursos. 
Em 2011 as melhores campanhas (pernambucano e série B) foram não de quem tinha mais dinheiro e poder político, mas de quem teve competência, de quem fez mais com menos, de quem se esforçou e jogou com garra todo o campeonato, apesar das dificuldades.
Ainda é muito difícil concorrer com uma política infame de distribuição de recursos que remonta à própria desigualdade econômica brasileira, reproduzindo um injusto sistema de castas, de privilegiados.
Mas é bom nunca esquecer do Davi que vence o Golias...
É festa! Festa de quem fez mais com menos, de quem foi mais competente todo o campeonato, de quem soube se superar, superando a quem se achava insuperável. É bonito ver a festa da verdadeira superação!

domingo, 20 de novembro de 2011

Memória Alvirrubra


Fazer memória é intrínseco à natureza humana. Na etimologia da palavra, memória está associada àquilo que "marca", que deixa marcas. O povo judeu sempre foi mestre na arte de fazer memória, tanto que conseguiu com esse artifício se manter enquanto um povo, uma nação, mesmo sem uma terra para chamar de sua. Não foi à toa que Jesus Cristo, um judeu, encerrou sua última ceia com seus amigos dizendo: "fazei isto em minha memória!" Fazer memória não é, portanto, lembrar do passado, é viver novamente o fato memorado, marcado, é trazer para o hoje o que foi vivido e vivê-lo novamente com intensidade. Comemorar, co-memorar é portanto, fazer memória junto, estar em comunhão na alegria, na lembrança, na recordação, no viver de novo o fato, celebrando, que por sua vez significa tornar célebre, marcante, memorável.

Essa crônica de hoje é um memorial particular que compartilho com os amigos, especialmente aqueles que são, como eu, torcedores do Clube Náutico Capibaribe, ou que lhe tem simpatia, ou mesmo os torcedores de times rivais que entendem que faz parte da competição reconhecer a vitória do opositor, até porque o futebol é um elemento da vida e não um instrumento para a guerra, como muitos infelizmente parecem ver. Mas a memória que faço é da primeira crônica que escrevi quando resolvi me aventurar no mundo dos blogs, ou na "blogosfera" como muitos chamam.

Naquela ocasião, cinco anos atrás, eu escrevia sobre o acesso do time alvirrubro para a Série A. Vínhamos de uma dramática derrota no ano anterior para o Grêmio, que nos impediu naquele momento  de voltar à elite do futebol brasileiro, e na crônica eu comentava que, da forma como aquela sofrível derrota aconteceu, dificilmente um clube se reergueria. Confessava eu na crônica, que cheguei a ter receio do futuro do meu time. Mas torcer pelo Náutico tem dessas coisas. Por mais que escutemos dos torcedores rivais que estamos "acabados", somos capazes de reviravoltas inesperadas, mesmo sem acesso equivalente aos recursos financeiros que acabam por definir, infelizmente, os times que conseguem competir dignamente. O que não deixa de ser, como gosto de brincar parafraseando o Roberto Carlos, quase mais um detalhe, porque conseguir fazer mais, não é nem gastando menos, é não tendo o que gastar, é algo que por si só já demonstra a natureza de fênix do time. Eu entendo esse comportamento dos torcedores rivais, principalmente os mais "endinheirados", é o instinto de defesa. Deve mesmo ser a única forma de tentar conter um time que com tão poucos recursos e sem nenhuma estrela se classifica para a série A com uma rodada de antecedência e tendo o artilheiro da competição, como aconteceu na tarde de ontem com o Náutico.

Na crônica de cinco anos atrás eu citava uma música que ficou bem popular entre nós alvirrubros naquela ocasião,  justo por expressar bem o que foi aquele momento para o time timbu. A música do Paulo Vanzolini  a certa altura diz: "ali onde eu chorei, qualquer um chorava, dar a volta por cima que eu dei, quero ver quem dava". E foi emocionante rever nas comemorações de ontem uma faixa com esses dizeres. Quiseram nos fazer acreditar, a imprensa pernambucana inclusive não se cansava de repetir isso, que o time ia lutar para não cair para a Série C. E eis que mais uma vez os experts em futebol se enganaram, pois negligenciaram a capacidade de superação de um time, sem estrelas é verdade, mas com espírito guerreiro e detentor de uma torcida apaixonada que não o abandona nem nos momentos mais dramáticos de sua história.

Deixo meus parabéns à direção do time, à comissão técnica, aos jogadores e à torcida, que se esforçaram para dar o melhor de si. E que tomemos os bons exemplo advindos do futebol também para nossas vidas. Podemos fazer sempre mais, mesmo tendo menos. Sonhar é o primeiro passo para viver uma realidade.

Saudações alvirrubras!

domingo, 6 de novembro de 2011

O Palhaço


Pois é, mais um filme para reflexão. Insisto, não estou querendo me tornar crítico de cinema ou coisa parecida. Apenas gosto de escrever sobre o que me faz parar para pensar, refletir, ruminar. Creio que estou tento sorte com os filmes, ainda que poucos, que tenho assistido ultimamente. E isso é bom, muito bom aliás, até porque há algum tempo atrás cheguei a pensar que não voltaria a ver bons filmes novamente, tamanha a falta de sorte que estava tendo na escolha dos filmes. Nada como um dia após o outro para nos apresentar novas perspectivas. E é exatamente o ver a vida sob perspectivas diferentes a grande mensagem, pelo menos por mim percebida, do interessante filme "O Palhaço", escrito, dirigido e protagonizado pelo Selton Mello e que está em cartaz por esses dias.

Selton Mello é Benjamin, filho do dono do Circo Esperança, este por sua vez interpretado pelo grande Paulo José. Juntos, pai e filho, formam uma dupla de palhaços (Pangaré e Puro Sangue) que é a grande atração de um circo que percorre pequenas cidades interioranas, sempre com muita dificuldade, com dinheiro curto, lona rasgada, e todo o tipo de necessidades por parte dos demais integrantes de uma trupe, cujo jeito de levar a vida, por si só, já bastaria ao filme.

Mas Selton Mello vai bem mais longe ao mostrar de forma delicada um palhaço triste, que não tem forças para lutar contra as dificuldades que a vida lhe apresenta. Como é dito no filme, gato come rato, rato come queijo e cada um só faz aquilo que sabe. E Benjamin só sabe ser palhaço, mas isso não mais lhe basta, não mais lhe traz leveza, paz de espírito, alegria. 

Cada um de nós, nesse mundo turbulento, maluco até, onde acabamos fazendo não aquilo que queremos, mas aquilo que querem para gente, acabamos vez ou outra nos comportando como Benjamin. Nada parece fazer sentido, as forças nos abandonam, o destino parece nos levar tal qual a correnteza de um revolto rio cujas cabeceiras recebem chuvas constantes. Nessas horas, a apatia parece ser a única forma de lidar com a vida, uma sobrevida.

Acontece que nas voltas que o mundo dá, por vezes, como mostra o filme, não é necessário negar a vida e os problemas que enfrentamos. Mas é necessário que mudemos de vez em quando as perspectivas com as quais enxergamos a vida, os problemas.  A felicidade é uma questão de eternidade, e eternidade que se encontra em um momento. Basta apenas um momento para que nos sintamos completos, eternos, felizes, apesar de nos sabermos incompletos, finitos, instáveis. 

Incompletos, finitos, instáveis, somos todos. Mas a "esperança", oportuno nome do circo do filme, nos surpreende com a transformação da dor em alegria, da escuridão em luz, da morte em vida. O mundo pode não mudar, mas algo dentro de nós sempre muda e, parafraseando Nietszche, ninguém tira da vida mais do que tem dentro de si. Assim, "quando não houver saída, quando não houver mais solução", "quando não houver esperança, quando não restar nem ilusão", como na música, é o momento de dizer pra si mesmo que "ainda há de haver saída, nem uma ideia vale uma vida", "ainda há de haver esperança, em cada um nós, algo de uma criança", algo de palhaço, palhaço triste que reconhece no picadeiro da vida, a sua verdadeira felicidade, sua "melhor" felicidade.

Trailer do filme O Palhaço

terça-feira, 18 de outubro de 2011

HOJE


Pra quem é da opinião de que este blogueiro está se especializando em falar sobre cinema, essa postagem será mais uma evidência. Mas já adverti antes e repito: não assistam filmes apenas porque eu comentei aqui, ou pelo menos não assistam pensando de antemão que o filme é bom, até porque gostos variam e o que me move a escrever em relação a filmes é mais “a partir deles” do que propriamente “sobre” eles.

O filme desta vez é nacional e estava até alguns dias atrás em cartaz: “O Homem do Futuro”. De antemão é bom que seja dito que embora o Wagner Moura seja um excelente ator, um dos melhores da nova safra, sua atuação nem chega perto de outra personagem sua, o genial Taoca de “Deus é Brasileiro”. Já a mocinha (vilã?) do filme, a Alinne Moraes, embora não seja uma grande atriz, ao menos não compromete o filme. O roteiro apresenta vagas semelhanças com “De Volta Para o Futuro”, o melhor filme de viagens no tempo de todos os tempos [redundância proposital]. É quase uma versão tupiniquim do megasucesso americano de 25 anos atrás, mantidas as devidas proporções. Estão presentes as mesmas ideias de que voltar no tempo e fazer mudanças é um risco e que o novo futuro resultado de mudanças no passado pode não ser assim tão bom. Contudo, também está presente a mensagem de que é possível dar “dribles” no tempo em benefício próprio, já que a grande lição que esse gênero de filmes parece pregar, embora fiquem brincando de ir pra frente e pra trás no tempo, é que devemos dar atenção ao “hoje”.















E é justo essa ideia que me chamou atenção no filme, que teve como ponto alto o perfeito casamento do roteiro com a música tema “Tempo Perdido” do saudoso Renato Russo (inclusive coloco aqui um trailer/clipe do filme/música) e que é uma ode ao hoje, ao viver o dia de hoje. Alguns de nós se preocupam demais com o futuro, outros insistem em tornar ao passado, alguns até gastam o seu tempo diário pensando em ambos, passado e futuro, e talvez a grande maioria de nós esqueçamos que a vida é agora, que está acontecendo ao nosso lado, nesse momento, e que “não temos tempo a perder”, que “somos nosso próprio tempo”.

Não estou aqui querendo pregar contra o planejamento e nem mesmo contra a análise do passado, até porque como professor de administração seria incoerência negligenciar tais ferramentas. Elas têm seu valor, tanto na vida quanto nas organizações. Mas quero convidar a todos, inclusive e principalmente a mim mesmo que me reconheço pecador pela falta de atenção crônica ao dia de hoje, a pôr a cabeça para fora da janela nesta “viagem” da vida e olhar o que está acontecendo, porque no dia em que chegarmos ao “destino final”, será tarde demais para admirar, desfrutar e VIVER o “caminho” percorrido. Como diria o professor pouco ortodoxo de A Sociedade dos Poetas Mortos, Carpe Diem, “colha o dia”!

P.S.: muito boa a referência original ao “carpe diem” do poema “Odes” de Horácio que trás a Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Carpe_diem

domingo, 9 de outubro de 2011

Lua Minguante


A vida
A vi dali
A vi de longe
A vi da lua
E era ”a” lua,
E a lua era ela
E a lua era dela
E ela era a era da lua
O tempo
O tempo de ser
O tempo de ser tempo
O tempo da lua
A vida era a lua
A lua era o tempo
E o tempo era a vida
E a vida era da lua
O tempo era a lua
O tempo era a vida

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Sobre Ligar Pontos: lições da lua e de Jobs


É curiosa a sensação de já estar sendo observado desde muito antes. De uns tempos pra cá, e já comentei sobre isso no blog, dei de reparar a lua, ou para ser mais exato, passei a conversar com ela. Embora prestar atenção a ela seja recente, descobri que ela já me olhava lá de cima há bem mais tempo. É certo que só agora ela tem a oportunidade de me perguntar o significado de certas coisas e é interessante como ela fica atenta a cada detalhe, como que tentando associar minha fala aos eventos passados. Antes de continuar a escrever, quero apenas esclarecer aos que estão esperando pelas histórias que a lua tem me contado nos últimos meses, sobre as pessoas e fatos que ela observou em sua milenar experiência, que muito certamente terão que esperar um pouco mais por isso, pois acredito que ainda não seja o momento de pô-las no papel. Quem sabe um livro...  Enquanto o “livro” não sai, eu fico por aqui contando um pouco de nossas conversas menos sérias (leia-se, conversas sobre tudo e sobre nada, sobre mim e sobre ela, sobre as relevantes irrelevâncias de cada dia).

Dia desses ela me indagou: “quais  os principais momentos de tua vida nos últimos dez anos?”.   Confesso que a pergunta me deixou meio sem chão, mas a minha cabeça se voltou imediatamente para o ano de 2001. Coincidência ou não, foi um ano bem simbólico em fatos, acontecimentos, além de ser o primeiro ano do novo milênio. E esse pensamento em 2001 foi algo não isolado, pois há pouco, estavam os meios de comunicação noticiando os dez anos do atentado ao WTC.  Lembro que naquele fatídico 11 de setembro, um pouco mais tarde, à noite, eu recebi minha primeira homenagem como professor de uma turma em que dei aula. E eu não era nem professor efetivo e nem mesmo substituto, apenas um voluntário aluno do mestrado em Administração, mestrado do qual, por razões que não vem aqui ao caso, havia sido “desligado” (foi essa a palavra que utilizaram na carta que me mandaram após terem negado meu pedido de prorrogação) poucos dias antes da homenagem. Foi dolorido participar das cerimônias de formatura e ser perguntado sobre o mestrado e ter que admitir que tinha sido “desligado”. O eficiente “robô”, que desde criança até concluir o curso superior nunca havia reprovado uma única disciplina sequer, que estudava com alunos em média dois anos mais velhos, que passou no primeiro vestibular que fez, que chegou a dar aulas para quem havia ingressado na universidade por este mesmo vestibular que ele, que à época foi o mais novo  mestrando do programa ao qual estava vinculado, este mesmo “robô” por não “funcionar” adequadamente naquele momento foi “desligado”. E foi exatamente essa a sensação que me acometeu naquele final de inverno e início de primavera de 10 anos atrás.
 
Quando a lua me perguntou sobre esse período de tempo, a rápida retrospectiva que fiz me deu a entender que pouco adiantou os tantos planos feitos, aquela quase que obsessiva tendência a pensar no futuro, até porque o mundo mudou muito nos últimos 10 anos e o que realmente me ajudou a chegar aos dias de hoje foram os momentos em que vivi com mais intensidade o “hoje”, aquele “hoje”, hoje passado, porém presente na memória do “hoje” de hoje. Isso eu só percebi porque a pergunta dela me levou a isso, e como ela já me observava desde antes, eu até acredito que a pergunta não tenha sido ao acaso. Conhecendo-a mais agora, imagino que tenha sido muito mais um artifício pedagógico para promover em mim uma auto-reflexão do que apenas a pura curiosidade de uma lua questionadora.

Nesta semana os noticiários apresentam a morte de um dos homens mais criativos que a história recente produziu: Steve Jobs. Co-fundador da Apple, ele revolucionou o mundo da informação e tornou esses últimos dez anos ainda mais intensos.  Mês passado, quando ele se afastou da Apple pela doença que o levaria à morte, assisti um vídeo no qual ele faz um discurso a uma turma de formandos da Stanford, e onde contava três histórias: a segunda, sobre sua demissão da Apple; a terceira, sobre a morte; e deixei para falar da primeira ao final, porque é dela que quero continuar a refletir: “sobre ligar pontos”.

Jobs argumenta que os pontos soltos só fazem sentido quando olhamos para trás. No caso dele, ter sido dado para doação e ter sido recusado pelo primeiro casal que deveria adotá-lo porque queriam uma menina, só fez sentido mais na frente, quando o novo casal de pais adotivos começou a gastar todas as suas economias para dar ao filho [ele] uma formação superior.  Ao perceber isso e, mais ainda, ao perceber que não gostava do que o estavam ensinando, abandonou o curso e com o tempo que passou a dispor, pôs-se a assistir as aulas que gostaria de ter, ainda que de forma “oficiosa”, tais como: caligrafia. Aparentemente seria um ponto bem solto, não fosse o fato de que, dez anos mais tarde, as noções de tipografia que aprendeu naquelas, aparentemente, insignificantes aulas, dariam um salto qualitativo sem precedentes nos editores de textos pós-macintosh. No discurso Jobs pede que acreditemos que os pontos de hoje serão ligados amanhã se fizermos o “hoje” com o coração. De uma forma ou de outra, embora a morte pareça sempre nos dizer o contrário, os pontos soltos da vida de Jobs foram todos ligados essa semana, e se acaso não parecem ligados, é porque os pontos soltos da vida de uns se confundem com os pontos soltos da vida de outros.

A lua, que estava ainda mais atenta aos meus pensamentos e palavras, meus atos e omissões, me pediu em sua lunática sabedoria que aprendesse a viver um dia de cada vez, sem despedidas e sem promessas, fazendo de cada dia o melhor dia possível, dando o melhor de mim: o melhor abraço possível para o momento, o melhor sorriso possível para a situação, o melhor olhar possível para a circunstância, a melhor palavra possível para a ocasião. Ao mesmo tempo em que é empolgante descobrir-se a cada dia um aprendiz, confesso que tem sido uma lição difícil de aprender. É complicado rever conceitos, opiniões, valores e crenças. Mais complicando ainda é questioná-los. E muito mais complexo é perceber que alguns deles fazem pouco sentido de agora em diante, embora tenham sido extremamente úteis para se chegar até aqui. Acontece que não é possível carregar tudo e sempre. Como na bela declaração ao amor de São Paulo aos Coríntios, para cada fase da vida precisamos nos ver de formas diferentes. O que foi adequado antes talvez não seja depois e nem por isso perde seu valor, pois fica guardado na memória, local onde os momentos são eternos. Somos sim uma soma de nosso passado, mas somos mais ainda aquilo que queiramos ser. Para isso, por vezes, é preciso, além de somar, subtrair, dividir e certamente multiplicar.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

São Francisco* para Professor


Por que temos que ler e escrever sobre o que não queremos e deixar de lado aquilo que gostaríamos de ler e de escrever? Agora mesmo estou diante de vários textos que devem ser lidos nos próximos dias para o doutorado e nenhum deles me é realmente atraente, embora até acredite que alguns (certamente não todos) possam ser úteis (um dia...). De certo, apenas que a obrigatoriedade em lê-los já me é um grande estímulo à não leitura. Meus melhores professores não só foram aqueles que eram apaixonados pelos temas que discorriam, mas sobretudo , os que assim, apaixonados, nos deixavam enamorados. E assim, apaixonados também nós, devorávamos tudo aquilo que nos era apresentado sobre o objeto da, agora, "nossa" paixão. O professor não deveria ser aquele que "passa" textos para serem lidos, mas aquele que assume pra si a função de cupido entre o aluno e o conhecimento.

Mesmo com tantos textos "obrigatórios" para serem lidos, resolvi me apaixonar assim meio que do nada, por um livro de filosofia, onde a autora defende que "o foco define a sorte".  Como todo apaixonado, mudo as minhas prioridades e arranjo tempo para inserir nesse mesmo pouco tempo, um tempo para minha recente paixão. A autora defende que a razão de muitos dos problemas nossos de cada dia são decorrentes de sermos levados a adotar o paradigma da escassez. Nele aprendemos que não há o suficiente para todos, então assim, acabamos por pensar primeiro em nós (egoísmo), a acreditar que é preciso haver perdedores e ganhadores (competição) e que é necessário  guardar porque de certo um dia irá faltar (acúmulo).  Não precisa ir longe para descobrir que esse é um modelo que privilegia poucos e exclui muitos. Em contraposição, a autora defende a adoção de um paradigma diferente baseado na abundância. Se imaginamos que há o suficiente para todos, então podemos contribuir com os outros (altruísmo), agir de modo a que todos ganhem (cooperação) e dividir os recursos de forma comunitária (partilha). Talvez isso realmente se aproxime do ideal de desenvolvimento sustentável, que tanto apregoam em discursos, mas pouco fazem em ações.

E pensando em termos de altruísmo, cooperação e partilha, o dia de hoje me trás à memória um jovem italiano, de nome Francisco, que viveu  na cidadezinha de Assis, em tempos passados, que em nome da visão da abundante graça reservada por Deus a todos os homens e mulheres , renuncia a tudo, ou melhor, renuncia ao que nos torna um nada. Abandona o status, o conforto e a riqueza da escassez e se veste do status de irmão do sol e da lua, do conforto da brisa e da sombra,  e da riqueza do viver em harmonia com todas as criaturas do universo. Algo me diz que Francisco teria sido um excelente professor universitário, pois teria feito seus alunos se apaixonarem pelo irmão conhecimento e pela irmã sabedoria.  São Francisco de Assis, rogai por nós!


(*) Hoje, 04 de outubro é o dia dedicado a São Francisco de Assis

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Do Cinema ao Dia do Administrador: reflexões sobre a universidade OU Administração: a melhor profissão e o melhor curso do MUNDO


Já me perguntaram se eu virei crítico de cinema por colocar aqui algumas postagens com referências a filmes. Contudo, acredito que fica claro que essas referências são apenas isso, referências. Na verdade eu não escrevo “sobre” os filmes em si, mas “a partir” deles. Foi assim com Melancolia e com Meia-Noite em Paris, e foi assim porque foram filmes que mexeram comigo, que de alguma forma me deixaram inquieto e com vontade de expressar uma ou outra ideia. Por isso, se alguém for assistir a qualquer um destes filmes e não gostar, por favor não me culpem, falo apenas por mim.

É dentro dessa linha de raciocínio que se insere o “filme de hoje”: Larry Crowne: o amor está de volta (mais um desses forçados subtítulos em português para atrair público, até porque mesmo estando presente, o amor, é claramente um elemento coadjuvante no enredo). O filme tem Tom Hanks na direção, na produção e no papel principal interpretando o próprio Larry Crowne, funcionário do mês da rede de supermercados UMART (vale ler o “U” com sotaque da terra do Tio Sam... “IU”, para se divertir com uma vaga “lembrança” com o nome de uma outra, “coincidente”, rede de supermercados). Por não ter curso superior devido ao tempo passado (20 anos) na marinha americana (como cozinheiro!) ele, recordista da seção de “funcionários do mês”, é demitido porque, pelas políticas da empresa, a progressão de carreira só pode ser alcançada com o nível superior, e a empresa (tão boazinha!) não quer podar seus funcionários de outras oportunidades “lá FORA!”.

Mesmo não sendo uma de suas atuações mais marcantes, a participação de Hanks é maximizada pela presença da talentosa Julia Roberts, uma professora universitária desiludida, frustrada, desmotivada e ameaçada de perder o emprego pela baixa quantidade de alunos presentes às suas aulas. É notória a exposição, ainda que de forma bem humorada, da atual crise americana em praticamente todas as personagens principais do filme.

Larry Crowne (Hanks) acaba se matriculando na disciplina da Professora Tainot (Roberts) e o resto é história. Destaque para o discurso final (a disciplina é de Oratória) de Crowne que, embora curto, é de uma intensidade, sensibilidade e inteligência pouco vista no cinema.
Esse ambiente universitário do filme, a necessidade de um curso superior, a desmotivação de professores e alunos e a pergunta que permeia todo o filme (“é possível um professor influenciar a vida de algum aluno?”) causa em quem, como eu, trabalha no meio, relativo impacto e propicia interessantes reflexões.

Também me perguntaram um dia desses se eu gostava mesmo, como antes havia dito à pessoa, de cerimônias de colação de grau. Sim, eu gosto mesmo! E o filme e, mais ainda o discurso do Hanks que mencionei, explicam em parte minha alegria em estar presente neste tipo de evento que muitos consideram maçantes, desnecessários e até obsoletos. Para mim vale pelo rito, que tão bem a raposa d’O Pequeno Príncipe descreve como sendo aquilo que torna um dia diferente dos outros dias, uma hora diferente das outras horas. Mesmo conhecendo os bastidores técnico-pedagógico-administrativo-emocional-disfuncionais do ambiente acadêmico e por isso mesmo não concordando com algumas colocações e/ou ações, ainda assim considero todo o momento válido, simbólico e até sagrado. Diria até que essas disfuncionalidades dão certo charme ao evento e, sobretudo, apesar de possíveis interesses contraditórios das diversas partes envolvidas, nos fazem crer que estamos construindo algo, que estamos mudando a vida de tantos alunos e alunas que por nós passam no cotidiano acadêmico e, junto com eles e elas, estamos também mudando nossas próprias vidas tal qual as personagens do Hanks e da Roberts em Larry Crowne.

Fiquei feliz na última colação de grau do Centro Acadêmico do Agreste da UFPE, mesmo não tendo sido professor da turma original prevista para ter se formado neste primeiro semestre de 2011, de ver concluindo o curso de Administração, os ex-alunos Paulo Duarte, Robson Bezerra e Rafaella Amaral, esta última aluna laureada, e embora sem ter sido aluna de fato, minha querida “ex” orientanda de TCC, Marcela Rebecca. Para muitas coisas existe aquele cartão de crédito, mas ver, estampado nos rostos deles e dos membros de suas famílias, a alegria, a emoção, a satisfação e principalmente os sonhos, é algo que o dinheiro não compra e só quem um dia foi ou é professor, e gosta do que fez/faz, sabe (realmente) do que estou falando.

Em comum, os quatro têm ainda a possibilidade de que neste dia de hoje, dia 09 de setembro, podem comemorar de fato e de direito, seu primeiro dia do administrador, no sentido “superior” da palavra. Ou melhor, num sentido ainda mais superior, já que escolheram a melhor profissão do mundo e para isso fizeram o melhor curso do mundo. A eles e a todos os administradores, nos quais orgulhosamente me incluo, os parabéns pelo nosso dia. Que consigamos, a despeito das dificuldades do dia-a-dia, cumprir o juramento feito de engrandecer ainda mais a maior de todas as profissões.

Os não-administradores que me desculpem, mas é que nós somos mesmo megalomaníacos. A constatação da realidade nos fez assim (risos).

Feliz Dia do Administrador!