sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Do Cinema ao Dia do Administrador: reflexões sobre a universidade OU Administração: a melhor profissão e o melhor curso do MUNDO


Já me perguntaram se eu virei crítico de cinema por colocar aqui algumas postagens com referências a filmes. Contudo, acredito que fica claro que essas referências são apenas isso, referências. Na verdade eu não escrevo “sobre” os filmes em si, mas “a partir” deles. Foi assim com Melancolia e com Meia-Noite em Paris, e foi assim porque foram filmes que mexeram comigo, que de alguma forma me deixaram inquieto e com vontade de expressar uma ou outra ideia. Por isso, se alguém for assistir a qualquer um destes filmes e não gostar, por favor não me culpem, falo apenas por mim.

É dentro dessa linha de raciocínio que se insere o “filme de hoje”: Larry Crowne: o amor está de volta (mais um desses forçados subtítulos em português para atrair público, até porque mesmo estando presente, o amor, é claramente um elemento coadjuvante no enredo). O filme tem Tom Hanks na direção, na produção e no papel principal interpretando o próprio Larry Crowne, funcionário do mês da rede de supermercados UMART (vale ler o “U” com sotaque da terra do Tio Sam... “IU”, para se divertir com uma vaga “lembrança” com o nome de uma outra, “coincidente”, rede de supermercados). Por não ter curso superior devido ao tempo passado (20 anos) na marinha americana (como cozinheiro!) ele, recordista da seção de “funcionários do mês”, é demitido porque, pelas políticas da empresa, a progressão de carreira só pode ser alcançada com o nível superior, e a empresa (tão boazinha!) não quer podar seus funcionários de outras oportunidades “lá FORA!”.

Mesmo não sendo uma de suas atuações mais marcantes, a participação de Hanks é maximizada pela presença da talentosa Julia Roberts, uma professora universitária desiludida, frustrada, desmotivada e ameaçada de perder o emprego pela baixa quantidade de alunos presentes às suas aulas. É notória a exposição, ainda que de forma bem humorada, da atual crise americana em praticamente todas as personagens principais do filme.

Larry Crowne (Hanks) acaba se matriculando na disciplina da Professora Tainot (Roberts) e o resto é história. Destaque para o discurso final (a disciplina é de Oratória) de Crowne que, embora curto, é de uma intensidade, sensibilidade e inteligência pouco vista no cinema.
Esse ambiente universitário do filme, a necessidade de um curso superior, a desmotivação de professores e alunos e a pergunta que permeia todo o filme (“é possível um professor influenciar a vida de algum aluno?”) causa em quem, como eu, trabalha no meio, relativo impacto e propicia interessantes reflexões.

Também me perguntaram um dia desses se eu gostava mesmo, como antes havia dito à pessoa, de cerimônias de colação de grau. Sim, eu gosto mesmo! E o filme e, mais ainda o discurso do Hanks que mencionei, explicam em parte minha alegria em estar presente neste tipo de evento que muitos consideram maçantes, desnecessários e até obsoletos. Para mim vale pelo rito, que tão bem a raposa d’O Pequeno Príncipe descreve como sendo aquilo que torna um dia diferente dos outros dias, uma hora diferente das outras horas. Mesmo conhecendo os bastidores técnico-pedagógico-administrativo-emocional-disfuncionais do ambiente acadêmico e por isso mesmo não concordando com algumas colocações e/ou ações, ainda assim considero todo o momento válido, simbólico e até sagrado. Diria até que essas disfuncionalidades dão certo charme ao evento e, sobretudo, apesar de possíveis interesses contraditórios das diversas partes envolvidas, nos fazem crer que estamos construindo algo, que estamos mudando a vida de tantos alunos e alunas que por nós passam no cotidiano acadêmico e, junto com eles e elas, estamos também mudando nossas próprias vidas tal qual as personagens do Hanks e da Roberts em Larry Crowne.

Fiquei feliz na última colação de grau do Centro Acadêmico do Agreste da UFPE, mesmo não tendo sido professor da turma original prevista para ter se formado neste primeiro semestre de 2011, de ver concluindo o curso de Administração, os ex-alunos Paulo Duarte, Robson Bezerra e Rafaella Amaral, esta última aluna laureada, e embora sem ter sido aluna de fato, minha querida “ex” orientanda de TCC, Marcela Rebecca. Para muitas coisas existe aquele cartão de crédito, mas ver, estampado nos rostos deles e dos membros de suas famílias, a alegria, a emoção, a satisfação e principalmente os sonhos, é algo que o dinheiro não compra e só quem um dia foi ou é professor, e gosta do que fez/faz, sabe (realmente) do que estou falando.

Em comum, os quatro têm ainda a possibilidade de que neste dia de hoje, dia 09 de setembro, podem comemorar de fato e de direito, seu primeiro dia do administrador, no sentido “superior” da palavra. Ou melhor, num sentido ainda mais superior, já que escolheram a melhor profissão do mundo e para isso fizeram o melhor curso do mundo. A eles e a todos os administradores, nos quais orgulhosamente me incluo, os parabéns pelo nosso dia. Que consigamos, a despeito das dificuldades do dia-a-dia, cumprir o juramento feito de engrandecer ainda mais a maior de todas as profissões.

Os não-administradores que me desculpem, mas é que nós somos mesmo megalomaníacos. A constatação da realidade nos fez assim (risos).

Feliz Dia do Administrador!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Ainda no Mundo da Lua


É quase uma unanimidade entre professores, alunos e ex-alunos de programas de pós-graduação, que ler ou escrever sobre temas não necessariamente técnicos ajuda a manter a sanidade, principalmente em cursos de doutorado. Eu também concordo e de certa forma este blog tenta cumprir um pouco esse objetivo. Mas como conseguir escrever para manter a sanidade quando se tem que passar o feriado todo nas ilustres companhias de Wittigenstein, Austin, Robbins, Clegg e Weber?  Já são mais de três semanas desde minha última postagem e, desta vez, definitivamente não foi por falta de inspiração que eu não passei aqui para escrever. Tantas foram as ideias (e ainda são) que algumas delas se perderam na longa estrada do tempo que as transformam em quase nada, só para parafrasear o Rei, que, pelo que eu soube, depois de fazer show em alto mar, resolveu fazer show na terra santa, o que não tem absolutamente nada a ver com os meus propósitos neste texto, mas que ilustram bem a (des)ordem dos devaneios que me acometem, especialmente depois de ler sobre semântica, atos da fala, valores, atitudes, burocracia e modernidade. Sim, mas onde eu estava mesmo?

Ah, eu queria apenas responder a quem me perguntou se haveriam mais histórias contadas pela lua. Na verdade, boa parte do que eu quis escrever aqui e não consegui por absoluta falta de tempo, foram coisas contadas por ela. Nossa comunicação está cada vez mais frequente, tanto que pela primeira vez em quase 35 anos de vida eu estou percebendo verdadeiramente as sutis mudanças de fase pelas quais ela passa, sem precisar recorrer a algum calendário para saber em em que forma ela se encontra. Percebi  assim, que a divisão em quatro fases é meramente didática, pois a cada dia ela me aparece de maneira diferente do nosso encontro anterior. Logo depois que publiquei aqui nossa primeira conversa, ela pareceu meio enciumada, me olhando de soslaio, por entre as nuvens, chegando mesmo a se esconder por trás dos armazéns lá do Marco Zero recifense. Sei lá, ela parecia não ter gostado que eu tenha compartilhado nossa conversa por meios eletrônicos. Foi uma fase de silêncio, mas talvez ela estivesse apenas pensando sobre que histórias me contaria. Passada essa fase minguante, em que ela parecia perder suas forças (e eu juntamente com ela),  chegado um certo momento, ela pareceu se renovar de alegrias e me contou o que observara na fase em que seu brilho diminuiu. Segundo ela, é nessa sua fase mais obscura que consegue refletir mais, que consegue melhor analisar as pessoas lá do alto, até porque ela costuma, nesse período, passar meio que despercebida da maioria de nós (e nessa hora ela me piscou o olhar de forma, paradoxalmente, brincalhona e inquisidora, de modo que facilmente fiz meu mea culpa) e assim as pessoas costumam se comportar de forma mais natural, sem a intenção de impressioná-la ou mesmo de impressionar outras pessoas usando-a como instrumento. Provavelmente por isso quase não são feitas poesias, cartas de amor, canções e reflexões sobre a lua minguante. Mas ela não me falou isso com mágoa, muito pelo contrário, quis apenas me mostrar que não só ela, mas que todos nós precisamos de nossos momentos de obscuridade para melhor refletir. No dia em que ela estava mais simpática, seus contornos na posição atual do céu nitidamente sorriam para mim, um sorriso tênue que com o passar dos dias foi ficando, crescentemente, mais largo. Ela parecia gostar cada vez de minha companhia e eu, que antes não a percebia, ficava cada vez mais encantado com suas mudanças e suas muitas histórias.

Não, não será hoje ainda que eu compartilharei com vocês algumas dessas histórias, mesmo porque eu preciso refletir antes para poder transcrevê-las em palavras, sem contar que essa crônica falta de tempo acaba atrasando tudo ainda mais. Todavia, como me fez questão de lembrar a própria lua, há um livro considerado sagrado por muitos e que ela adora porque é dele personagem desde a sua gênese, que contem dentro de si um livrinho menor chamado Eclesiastes, que significa algo como “aquele que fala à assembleia” ou mesmo “professor”, o qual ensina (é, faz mesmo sentido então a etimologia da palavra) que para tudo existe tempo debaixo do céu. Tempo disso, tempo daquilo.  E o tempo de escrever essas histórias ainda chegará. Por enquanto eu vou apenas olhando ela se encher de luz já que certas coisas eu não sei ainda dizer.