Já me perguntaram se eu virei
crítico de cinema por colocar aqui algumas postagens com referências a filmes.
Contudo, acredito que fica claro que essas referências são apenas isso,
referências. Na verdade eu não escrevo “sobre” os filmes em si, mas “a partir”
deles. Foi assim com Melancolia e com Meia-Noite em Paris, e foi assim porque
foram filmes que mexeram comigo, que de alguma forma me deixaram inquieto e com
vontade de expressar uma ou outra ideia. Por isso, se alguém for assistir a
qualquer um destes filmes e não gostar, por favor não me culpem, falo apenas por
mim.
É dentro dessa linha de
raciocínio que se insere o “filme de hoje”: Larry Crowne: o amor está de volta
(mais um desses forçados subtítulos em português para atrair público, até
porque mesmo estando presente, o amor, é claramente um elemento coadjuvante no
enredo). O filme tem Tom Hanks na direção, na produção e no papel principal
interpretando o próprio Larry Crowne, funcionário do mês da rede de
supermercados UMART (vale ler o “U” com sotaque da terra do Tio Sam... “IU”,
para se divertir com uma vaga “lembrança” com o nome de uma outra, “coincidente”,
rede de supermercados). Por não ter curso superior devido ao tempo passado (20
anos) na marinha americana (como cozinheiro!) ele, recordista da seção de “funcionários
do mês”, é demitido porque, pelas políticas da empresa, a progressão de
carreira só pode ser alcançada com o nível superior, e a empresa (tão
boazinha!) não quer podar seus funcionários de outras oportunidades “lá FORA!”.
Mesmo não sendo uma de suas atuações
mais marcantes, a participação de Hanks é maximizada pela presença da talentosa
Julia Roberts, uma professora universitária desiludida, frustrada, desmotivada
e ameaçada de perder o emprego pela baixa quantidade de alunos presentes às
suas aulas. É notória a exposição, ainda que de forma bem humorada, da atual
crise americana em praticamente todas as personagens principais do filme.
Larry Crowne (Hanks) acaba se
matriculando na disciplina da Professora Tainot (Roberts) e o resto é história.
Destaque para o discurso final (a disciplina é de Oratória) de Crowne que,
embora curto, é de uma intensidade, sensibilidade e inteligência pouco vista no
cinema.
Esse ambiente universitário do
filme, a necessidade de um curso superior, a desmotivação de professores e
alunos e a pergunta que permeia todo o filme (“é possível um professor influenciar
a vida de algum aluno?”) causa em quem, como eu, trabalha no meio, relativo
impacto e propicia interessantes reflexões.
Também me perguntaram um dia
desses se eu gostava mesmo, como antes havia dito à pessoa, de cerimônias de
colação de grau. Sim, eu gosto mesmo! E o filme e, mais ainda o discurso do
Hanks que mencionei, explicam em parte minha alegria em estar presente neste
tipo de evento que muitos consideram maçantes, desnecessários e até obsoletos. Para
mim vale pelo rito, que tão bem a raposa d’O Pequeno Príncipe descreve como
sendo aquilo que torna um dia diferente dos outros dias, uma hora diferente das
outras horas. Mesmo conhecendo os bastidores técnico-pedagógico-administrativo-emocional-disfuncionais
do ambiente acadêmico e por isso mesmo não concordando com algumas colocações
e/ou ações, ainda assim considero todo o momento válido, simbólico e até
sagrado. Diria até que essas disfuncionalidades dão certo charme ao evento e,
sobretudo, apesar de possíveis interesses contraditórios das diversas partes
envolvidas, nos fazem crer que estamos construindo algo, que estamos mudando a
vida de tantos alunos e alunas que por nós passam no cotidiano acadêmico e,
junto com eles e elas, estamos também mudando nossas próprias vidas tal qual as
personagens do Hanks e da Roberts em Larry Crowne.
Fiquei feliz na última colação
de grau do Centro Acadêmico do Agreste da UFPE, mesmo não tendo sido professor
da turma original prevista para ter se formado neste primeiro semestre de 2011,
de ver concluindo o curso de Administração, os ex-alunos Paulo Duarte, Robson
Bezerra e Rafaella Amaral, esta última aluna laureada, e embora sem ter sido
aluna de fato, minha querida “ex” orientanda de TCC, Marcela Rebecca. Para
muitas coisas existe aquele cartão de crédito, mas ver, estampado nos rostos
deles e dos membros de suas famílias, a alegria, a emoção, a satisfação e
principalmente os sonhos, é algo que o dinheiro não compra e só quem um dia foi
ou é professor, e gosta do que fez/faz, sabe (realmente) do que estou falando.
Em comum, os quatro têm ainda a
possibilidade de que neste dia de hoje, dia 09 de setembro, podem comemorar de
fato e de direito, seu primeiro dia do administrador, no sentido “superior” da
palavra. Ou melhor, num sentido ainda mais superior, já que escolheram a melhor
profissão do mundo e para isso fizeram o melhor curso do mundo. A eles e a
todos os administradores, nos quais orgulhosamente me incluo, os parabéns pelo
nosso dia. Que consigamos, a despeito das dificuldades do dia-a-dia, cumprir o
juramento feito de engrandecer ainda mais a maior de todas as profissões.
Os não-administradores que me
desculpem, mas é que nós somos mesmo megalomaníacos. A constatação da realidade
nos fez assim (risos).
Feliz Dia do Administrador!