domingo, 27 de novembro de 2011
domingo, 20 de novembro de 2011
Memória Alvirrubra
Fazer memória é intrínseco à natureza humana. Na
etimologia da palavra, memória está associada àquilo que "marca", que
deixa marcas. O povo judeu sempre foi mestre na arte de fazer memória, tanto
que conseguiu com esse artifício se manter enquanto um povo, uma nação, mesmo
sem uma terra para chamar de sua. Não foi à toa que Jesus Cristo, um judeu,
encerrou sua última ceia com seus amigos dizendo: "fazei isto em minha
memória!" Fazer memória não é, portanto, lembrar do passado, é viver
novamente o fato memorado, marcado, é trazer para o hoje o que foi vivido e
vivê-lo novamente com intensidade. Comemorar, co-memorar é portanto, fazer
memória junto, estar em comunhão na alegria, na lembrança, na recordação, no
viver de novo o fato, celebrando, que por sua vez significa tornar célebre, marcante,
memorável.
Essa crônica de hoje é um memorial particular que
compartilho com os amigos, especialmente aqueles que são, como eu, torcedores
do Clube Náutico Capibaribe, ou que lhe tem simpatia, ou mesmo os torcedores de
times rivais que entendem que faz parte da competição reconhecer a vitória do
opositor, até porque o futebol é um elemento da vida e não um instrumento para
a guerra, como muitos infelizmente parecem ver. Mas a memória que faço é da
primeira crônica que escrevi quando resolvi me aventurar no mundo dos blogs, ou
na "blogosfera" como muitos chamam.
Naquela ocasião, cinco anos atrás, eu escrevia sobre o
acesso do time alvirrubro para a Série A. Vínhamos de uma dramática derrota no
ano anterior para o Grêmio, que nos impediu naquele momento de voltar à elite do futebol brasileiro, e na
crônica eu comentava que, da forma como aquela sofrível derrota aconteceu,
dificilmente um clube se reergueria. Confessava eu na crônica, que cheguei a
ter receio do futuro do meu time. Mas torcer pelo Náutico tem dessas coisas.
Por mais que escutemos dos torcedores rivais que estamos "acabados",
somos capazes de reviravoltas inesperadas, mesmo sem acesso equivalente aos
recursos financeiros que acabam por definir, infelizmente, os times que
conseguem competir dignamente. O que não deixa de ser, como gosto de brincar
parafraseando o Roberto Carlos, quase mais um detalhe, porque conseguir fazer
mais, não é nem gastando menos, é não tendo o que gastar, é algo que por si só
já demonstra a natureza de fênix do time. Eu entendo esse comportamento dos
torcedores rivais, principalmente os mais "endinheirados", é o
instinto de defesa. Deve mesmo ser a única forma de tentar conter um time que
com tão poucos recursos e sem nenhuma estrela se classifica para a série A com
uma rodada de antecedência e tendo o artilheiro da competição, como aconteceu
na tarde de ontem com o Náutico.
Na crônica de cinco anos atrás eu citava uma música que
ficou bem popular entre nós alvirrubros naquela ocasião, justo por expressar bem o que foi aquele
momento para o time timbu. A música do Paulo Vanzolini a certa altura diz: "ali onde eu chorei,
qualquer um chorava, dar a volta por cima que eu dei, quero ver quem
dava". E foi emocionante rever nas comemorações de ontem uma faixa com
esses dizeres. Quiseram nos fazer acreditar, a imprensa pernambucana inclusive
não se cansava de repetir isso, que o time ia lutar para não cair para a Série
C. E eis que mais uma vez os experts em futebol se enganaram, pois
negligenciaram a capacidade de superação de um time, sem estrelas é verdade,
mas com espírito guerreiro e detentor de uma torcida apaixonada que não o abandona
nem nos momentos mais dramáticos de sua história.
Deixo meus parabéns à direção do time, à comissão
técnica, aos jogadores e à torcida, que se esforçaram para dar o melhor de si.
E que tomemos os bons exemplo advindos do futebol também para nossas vidas.
Podemos fazer sempre mais, mesmo tendo menos. Sonhar é o primeiro passo para
viver uma realidade.
Saudações alvirrubras!
domingo, 6 de novembro de 2011
O Palhaço
Pois é, mais um filme para reflexão. Insisto, não estou
querendo me tornar crítico de cinema ou coisa parecida. Apenas gosto de
escrever sobre o que me faz parar para pensar, refletir, ruminar. Creio que
estou tento sorte com os filmes, ainda que poucos, que tenho assistido
ultimamente. E isso é bom, muito bom aliás, até porque há algum tempo atrás cheguei
a pensar que não voltaria a ver bons filmes novamente, tamanha a falta de sorte
que estava tendo na escolha dos filmes. Nada como um dia após o outro para nos
apresentar novas perspectivas. E é exatamente o ver a vida sob perspectivas
diferentes a grande mensagem, pelo menos por mim percebida, do interessante
filme "O Palhaço", escrito, dirigido e protagonizado pelo Selton
Mello e que está em cartaz por esses dias.
Selton Mello é Benjamin, filho do dono do Circo Esperança,
este por sua vez interpretado pelo grande Paulo José. Juntos, pai e filho, formam
uma dupla de palhaços (Pangaré e Puro Sangue) que é a grande atração de um
circo que percorre pequenas cidades interioranas, sempre com muita dificuldade,
com dinheiro curto, lona rasgada, e todo o tipo de necessidades por parte dos
demais integrantes de uma trupe, cujo jeito de levar a vida, por si só, já
bastaria ao filme.
Mas Selton Mello vai bem mais longe ao mostrar de forma
delicada um palhaço triste, que não tem forças para lutar contra as
dificuldades que a vida lhe apresenta. Como é dito no filme, gato come rato,
rato come queijo e cada um só faz aquilo que sabe. E Benjamin só sabe ser
palhaço, mas isso não mais lhe basta, não mais lhe traz leveza, paz de
espírito, alegria.
Cada um de nós, nesse mundo turbulento, maluco até, onde
acabamos fazendo não aquilo que queremos, mas aquilo que querem para gente,
acabamos vez ou outra nos comportando como Benjamin. Nada parece fazer sentido,
as forças nos abandonam, o destino parece nos levar tal qual a correnteza de um
revolto rio cujas cabeceiras recebem chuvas constantes. Nessas horas, a apatia
parece ser a única forma de lidar com a vida, uma sobrevida.
Acontece que nas voltas que o mundo dá, por vezes, como
mostra o filme, não é necessário negar a vida e os problemas que enfrentamos.
Mas é necessário que mudemos de vez em quando as perspectivas com as quais
enxergamos a vida, os problemas. A
felicidade é uma questão de eternidade, e eternidade que se encontra em um
momento. Basta apenas um momento para que nos sintamos completos, eternos,
felizes, apesar de nos sabermos incompletos, finitos, instáveis.
Incompletos, finitos, instáveis, somos todos. Mas a
"esperança", oportuno nome do circo do filme, nos surpreende com a
transformação da dor em alegria, da escuridão em luz, da morte em vida. O mundo
pode não mudar, mas algo dentro de nós sempre muda e, parafraseando Nietszche,
ninguém tira da vida mais do que tem dentro de si. Assim, "quando não
houver saída, quando não houver mais solução", "quando não houver
esperança, quando não restar nem ilusão", como na música, é o momento de
dizer pra si mesmo que "ainda há de haver saída, nem uma ideia vale uma
vida", "ainda há de haver esperança, em cada um nós, algo de uma
criança", algo de palhaço, palhaço triste que reconhece no picadeiro da
vida, a sua verdadeira felicidade, sua "melhor" felicidade.
Trailer do filme O Palhaço
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