domingo, 27 de novembro de 2011

Festa Vermelha e Branca

E os profetas de plantão chegaram a prever que o time do Náutico era sério candidato ao rebaixamento para a Série C... 
Agora estão calados ou fazendo de conta que não estão preocupados com a ascensão do CNC. Mas é mesmo motivo de preocupação e por isso precisam tentar menosprezar a torcida alvirrubra, afinal de contas um time sem elenco milionário, sem ajuda financeira do Clube dos 13, e que consegue fazer uma campanha estável, permanecer muitas rodadas no G4, ser vice-campeão, jogar a última rodada sem absolutamente nenhuma preocupação por já estar classificado a mais de uma semana, nao perder um único jogo em casa e ter o artilheiro da competição...
O meu timbu voltou e não foi só para a primeira divisão não, foi para disputar de igual pra igual, mesmo com aqueles que, com artimanhas e jogo político sujo tentaram barrar o crescimento dos demais times de Pernambuco, impedindo que tivessem acesso aos mesmos recursos. 
Em 2011 as melhores campanhas (pernambucano e série B) foram não de quem tinha mais dinheiro e poder político, mas de quem teve competência, de quem fez mais com menos, de quem se esforçou e jogou com garra todo o campeonato, apesar das dificuldades.
Ainda é muito difícil concorrer com uma política infame de distribuição de recursos que remonta à própria desigualdade econômica brasileira, reproduzindo um injusto sistema de castas, de privilegiados.
Mas é bom nunca esquecer do Davi que vence o Golias...
É festa! Festa de quem fez mais com menos, de quem foi mais competente todo o campeonato, de quem soube se superar, superando a quem se achava insuperável. É bonito ver a festa da verdadeira superação!

domingo, 20 de novembro de 2011

Memória Alvirrubra


Fazer memória é intrínseco à natureza humana. Na etimologia da palavra, memória está associada àquilo que "marca", que deixa marcas. O povo judeu sempre foi mestre na arte de fazer memória, tanto que conseguiu com esse artifício se manter enquanto um povo, uma nação, mesmo sem uma terra para chamar de sua. Não foi à toa que Jesus Cristo, um judeu, encerrou sua última ceia com seus amigos dizendo: "fazei isto em minha memória!" Fazer memória não é, portanto, lembrar do passado, é viver novamente o fato memorado, marcado, é trazer para o hoje o que foi vivido e vivê-lo novamente com intensidade. Comemorar, co-memorar é portanto, fazer memória junto, estar em comunhão na alegria, na lembrança, na recordação, no viver de novo o fato, celebrando, que por sua vez significa tornar célebre, marcante, memorável.

Essa crônica de hoje é um memorial particular que compartilho com os amigos, especialmente aqueles que são, como eu, torcedores do Clube Náutico Capibaribe, ou que lhe tem simpatia, ou mesmo os torcedores de times rivais que entendem que faz parte da competição reconhecer a vitória do opositor, até porque o futebol é um elemento da vida e não um instrumento para a guerra, como muitos infelizmente parecem ver. Mas a memória que faço é da primeira crônica que escrevi quando resolvi me aventurar no mundo dos blogs, ou na "blogosfera" como muitos chamam.

Naquela ocasião, cinco anos atrás, eu escrevia sobre o acesso do time alvirrubro para a Série A. Vínhamos de uma dramática derrota no ano anterior para o Grêmio, que nos impediu naquele momento  de voltar à elite do futebol brasileiro, e na crônica eu comentava que, da forma como aquela sofrível derrota aconteceu, dificilmente um clube se reergueria. Confessava eu na crônica, que cheguei a ter receio do futuro do meu time. Mas torcer pelo Náutico tem dessas coisas. Por mais que escutemos dos torcedores rivais que estamos "acabados", somos capazes de reviravoltas inesperadas, mesmo sem acesso equivalente aos recursos financeiros que acabam por definir, infelizmente, os times que conseguem competir dignamente. O que não deixa de ser, como gosto de brincar parafraseando o Roberto Carlos, quase mais um detalhe, porque conseguir fazer mais, não é nem gastando menos, é não tendo o que gastar, é algo que por si só já demonstra a natureza de fênix do time. Eu entendo esse comportamento dos torcedores rivais, principalmente os mais "endinheirados", é o instinto de defesa. Deve mesmo ser a única forma de tentar conter um time que com tão poucos recursos e sem nenhuma estrela se classifica para a série A com uma rodada de antecedência e tendo o artilheiro da competição, como aconteceu na tarde de ontem com o Náutico.

Na crônica de cinco anos atrás eu citava uma música que ficou bem popular entre nós alvirrubros naquela ocasião,  justo por expressar bem o que foi aquele momento para o time timbu. A música do Paulo Vanzolini  a certa altura diz: "ali onde eu chorei, qualquer um chorava, dar a volta por cima que eu dei, quero ver quem dava". E foi emocionante rever nas comemorações de ontem uma faixa com esses dizeres. Quiseram nos fazer acreditar, a imprensa pernambucana inclusive não se cansava de repetir isso, que o time ia lutar para não cair para a Série C. E eis que mais uma vez os experts em futebol se enganaram, pois negligenciaram a capacidade de superação de um time, sem estrelas é verdade, mas com espírito guerreiro e detentor de uma torcida apaixonada que não o abandona nem nos momentos mais dramáticos de sua história.

Deixo meus parabéns à direção do time, à comissão técnica, aos jogadores e à torcida, que se esforçaram para dar o melhor de si. E que tomemos os bons exemplo advindos do futebol também para nossas vidas. Podemos fazer sempre mais, mesmo tendo menos. Sonhar é o primeiro passo para viver uma realidade.

Saudações alvirrubras!

domingo, 6 de novembro de 2011

O Palhaço


Pois é, mais um filme para reflexão. Insisto, não estou querendo me tornar crítico de cinema ou coisa parecida. Apenas gosto de escrever sobre o que me faz parar para pensar, refletir, ruminar. Creio que estou tento sorte com os filmes, ainda que poucos, que tenho assistido ultimamente. E isso é bom, muito bom aliás, até porque há algum tempo atrás cheguei a pensar que não voltaria a ver bons filmes novamente, tamanha a falta de sorte que estava tendo na escolha dos filmes. Nada como um dia após o outro para nos apresentar novas perspectivas. E é exatamente o ver a vida sob perspectivas diferentes a grande mensagem, pelo menos por mim percebida, do interessante filme "O Palhaço", escrito, dirigido e protagonizado pelo Selton Mello e que está em cartaz por esses dias.

Selton Mello é Benjamin, filho do dono do Circo Esperança, este por sua vez interpretado pelo grande Paulo José. Juntos, pai e filho, formam uma dupla de palhaços (Pangaré e Puro Sangue) que é a grande atração de um circo que percorre pequenas cidades interioranas, sempre com muita dificuldade, com dinheiro curto, lona rasgada, e todo o tipo de necessidades por parte dos demais integrantes de uma trupe, cujo jeito de levar a vida, por si só, já bastaria ao filme.

Mas Selton Mello vai bem mais longe ao mostrar de forma delicada um palhaço triste, que não tem forças para lutar contra as dificuldades que a vida lhe apresenta. Como é dito no filme, gato come rato, rato come queijo e cada um só faz aquilo que sabe. E Benjamin só sabe ser palhaço, mas isso não mais lhe basta, não mais lhe traz leveza, paz de espírito, alegria. 

Cada um de nós, nesse mundo turbulento, maluco até, onde acabamos fazendo não aquilo que queremos, mas aquilo que querem para gente, acabamos vez ou outra nos comportando como Benjamin. Nada parece fazer sentido, as forças nos abandonam, o destino parece nos levar tal qual a correnteza de um revolto rio cujas cabeceiras recebem chuvas constantes. Nessas horas, a apatia parece ser a única forma de lidar com a vida, uma sobrevida.

Acontece que nas voltas que o mundo dá, por vezes, como mostra o filme, não é necessário negar a vida e os problemas que enfrentamos. Mas é necessário que mudemos de vez em quando as perspectivas com as quais enxergamos a vida, os problemas.  A felicidade é uma questão de eternidade, e eternidade que se encontra em um momento. Basta apenas um momento para que nos sintamos completos, eternos, felizes, apesar de nos sabermos incompletos, finitos, instáveis. 

Incompletos, finitos, instáveis, somos todos. Mas a "esperança", oportuno nome do circo do filme, nos surpreende com a transformação da dor em alegria, da escuridão em luz, da morte em vida. O mundo pode não mudar, mas algo dentro de nós sempre muda e, parafraseando Nietszche, ninguém tira da vida mais do que tem dentro de si. Assim, "quando não houver saída, quando não houver mais solução", "quando não houver esperança, quando não restar nem ilusão", como na música, é o momento de dizer pra si mesmo que "ainda há de haver saída, nem uma ideia vale uma vida", "ainda há de haver esperança, em cada um nós, algo de uma criança", algo de palhaço, palhaço triste que reconhece no picadeiro da vida, a sua verdadeira felicidade, sua "melhor" felicidade.

Trailer do filme O Palhaço