segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Excesso de Passado... Excesso de Futuro...


Um amigo meu, psicólogo, colocou dia desses em seu facebook, que "depressão é excesso de passado e ansiedade é excesso de futuro". Por falar em psicólogos, deixo neste dia a eles dedicado, dia 27 de agosto, meus parabéns a todos os profissionais que trabalham com a psicologia humana. Hoje, respeito ainda mais o trabalho que eles realizam. A mente humana é maravilhosa mas pode se tornar um poço escuro e fundo de onde para escapar é preciso reconhecer que é necessário deixar que outras pessoas nos ajudem. Mas voltando à frase, parece mesmo fazer muito sentido... De certo, o excesso de presente deve ser o que chamam de felicidade. Na filosofia oriental é muito clara a ideia de que a infelicidade está associada a vivermos muito no passado ou no futuro.

Isso deve ser verdade, pois as sombras que me invadiram hoje tinham a ver com o passado e com o futuro. O coração estava aflito, ainda está, mas ao menos consegui viver um pouco, ainda que por alguns minutos, essa experiência do presente. Na minha última postagem comentei que estava lendo um livro, que estava na metade. Terminei-o de ler na segunda vez que o peguei. Pensei que é difícil não nos identificar com os livros que mexem com a gente, até porque, como disse Nietzsche, ninguém tira de um livro mais do que tem dentro de si. Pensando sobre o livro e sobre tantos outros livros que li, tantas outras histórias com os mais diversos fins, percebi que podemos nos identificar com uma coisa ou outra, que podemos aprender muita coisa com o que lemos, mas que nossa vida não é um livro, até porque somos muito mais que livros. Nos livros, ficamos a mercê dos desejos do escritor. Na vida, o autor dela, Deus, nos dá a chance de escrever a nossa própria história. Como diz a música, "cada um de nós compõe a sua história e cada ser em si carrega o dom de ser capaz, de ser feliz."

Pensei nisso quando me permiti, me forcei (mesmo) a viver o presente. Para resolver um pouco do que me afligia resolvi correr. Percebi apenas quando cheguei ao parque (onde fui correr), que havia esquecido o cronômetro. Fiquei um tanto quanto chateado comigo. O interessante é que era uma chateação completamente desnecessária, pois eu não pretendo me tornar atleta, não estou buscando bater recordes, apenas queria monitorar, controlar, anotar meu próprio tempo, analisando meu desempenho a cada volta de 1km etc. etc. etc. Ou seja, uma inutilidade. Mas deve ser a coisa da competitividade masculina, que leva a gente a competir paranoicamente até com a gente mesmo, no passado, pensando num futuro. Excesso de passado... excesso de futuro... Mas não foi ainda aí que eu me concentrei no presente. Tentei correr em ritmos distintos cada volta, contar as passadas, perceber como estava minha respiração e meu cansaço de uma volta para outra, tentando projetar meu desempenho para volta seguinte etc. etc. etc. E olhe que o objetivo da corrida era desanuviar a mente. Excesso de passado... excesso de futuro...

Mas aí bateu o cansaço e bateu no meio de um volta. Precisava terminar o percurso porque o carro estava no outro lado do parque. E aí, distraidamente eu fui feliz, naquele resto de caminho. Sincronicamente, acreditem, enquanto escrevo isso, começa um filme na tv onde a personagem principal diz na primeira cena: "não existe caminho para a felicidade; a felicidade é um caminho". Pois é, foi isso que eu experimentei. Li-te-ral-men-te! Quinhentos e poucos metros de plena felicidade. Já havia passado cinco vezes pelo mesmo local naquela corrida mas não havia reparado nas crianças brincando no playground, nos adolescentes fazendo manobras radicais na pista de bicicross, nos jovens apaixonados, nos demais que caminhavam buscando uma vida saudável, nas flores, nas árvores. Me deixou tocado um galho de coqueiro que lutava para sobreviver. Mas o que me comoveu mesmo foi um pinheiro, que deve estar ali há anos e eu nunca o tinha visto. Ele começa totalmente torto, mas muito torto mesmo, é até estranho. Mas em determinado momento, ele se apruma e a partir dali cresce de forma perpendicular ao solo. Fiquei ali um tempo observando o amigo pinheiro, pensando nos porquês daquela estranha formação, foi quando ampliando a visão percebi o que aconteceu na sua história. Comparado as outras árvores que o cercavam, ele era muito mais jovem que as demais e estas lhe faziam sombras. Ele ficou torto para procurar o sol, para se livrar das sombras. Ele não podia mudar suas raízes, fazia parte da sua história, mas ele pôde mudar a direção que o levaria certamente ao tombo. E ele foi em busca do sol e quando encontrou, conseguiu se livrar das sombras, se tornou maior e mais forte. Sorri, pensando que o pinheiro teria muito mais exemplo a dar do que eu mesmo. Amigo pinheiro, pensei, obrigado pela lição de hoje à tarde. Obrigado pela felicidade ainda que momentânea. Obrigado por mostrar que devemos buscar um lugar ao sol, mesmo diante das sombras que fazem parte da nossa vida. Mais uma vez a ideia de que é preciso fazer as pazes com as sombras me assaltou.

A felicidade que encheu meu coração naquele momento foi cedendo lugar a outros sentimentos não agradáveis. Realmente somos homens de pouca fé como disse Jesus. Tudo estava claro, mas meu racionalismo insistiu em aparecer e pôr em dúvida a força do exemplo do pinheiro. Numa última tentativa de não perder a magia do momento, ergui a cabeça aos céus e pedi um sinal de Deus de que eu deveria manter minha fé no que "dizia" meu pinheiro amigo. Coisa bem racional essa de pedir sinais. Fazendo experiência com Deus, com dados para compor a amostra. Eita limitação humana... Mas Deus parece mesmo entender nossas limitações. Ele deve ter sorrido e pensado: "queres um sinal? Pois bem, no Pai-Nosso você pede que seja feita a minha vontade, mas tudo bem, hoje a minha vontade é que seja feita a sua vontade". E do céu caiu uma chuva fina, chuva que abençoa, restaura e dá forças. Chuva que mostra que a felicidade está no agora. E dos meus olhos também caíram água. Lágrimas que se misturaram ao suor e à chuva. Lágrimas de felicidade. Eu sabia que em breve o passado e o futuro voltariam para me afligir, mas em breve, enquanto isso eu era feliz e a certeza dessa felicidade me mostrou que é possível (mesmo) ser feliz e quando uma certeza se instala em nosso coração, em nossa mente, em nosso corpo, em nossa alma, é para sempre.

Um comentário:

  1. Feliz por partilhar esses minutos da sua felicidade, Luiz. Que as bênçãos recebidas hoje possam ter lavado um pouco das angústias desses passado e futuro. Mesmo que um pouco... Continue a nadar! Continue a nadar!

    Lindas palavras!

    Paz, luz e sol pra sua vida! =D

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