Noite de insônia, pra variar...
É, "variar" deve ser
a palavra certa... Basta de ficar deitado na cama, rolando de um lado para o
outro. Levanto, ponho calça, camisa e tênis, pego o carro e vou ao supermercado
24 horas. Pra que deixar para a manhã o que se pode fazer de madrugada? Sem
estresse, sem pessoas apinhadas nas filas dos caixas, além de contar com o
trânsito livre. Pode parecer pouco, é realmente pouco, mas não deixa de ter
aquela sensação boa de liberdade, de não obedecer o convencional, de não fazer
o que todo mundo faz. Se Jesus estava certo ao dizer que pequenos atos negativos
prenunciam atos negativos futuros maiores, a lógica não deve ser diferente para
outros tipos de atos. Assim, pequenas transgressões que trazem felicidade ainda
que momentânea, de certo são prenúncio de transgressões maiores que causarão
uma felicidade maior. É uma questão de fé, concordo, mas o que não é (mesmo)
uma questão de fé? No rádio do carro, num volume bem acima do (meu) normal,
toca Alagados, do Paralamas do Sucesso, que fala d'"Arte de viver na fé", ainda que
não se saiba "fé em que?".
Essa música, que tocou ainda
na escura madrugada prenunciava um fato que viria a ocorrer um pouco mais
tarde. Voltando para casa, depois das compras feitas com aquela tranquilidade
esperada, o dia já claro, mas a cabeça, pensando em coisas mil nem havia
percebido o amanhecer. Foi quando ele apareceu com sua conhecida força. O sol
nascia no horizonte com um brilho
arrebatador, dependurado num céu, que como diz a música Boa Pessoa d'A Banda
Mais Bonita da Cidade, é de uma beleza que caçoa. De imediato fico encandeado.
Um risco para quem dirige, é verdade. Mas alguns riscos devem ser assumidos em
prol da beleza. Por vezes, o próprio risco é prenúncio da beleza que há por
vir. O sol parece rir de mim, se divertir com minha surpresa. Ele já conhece minhas
surpresas com a natureza que eu pouco ligava antes, via lua, com a qual tem uma relação mais do que próxima, pois é
através dela que ele consegue iluminar as noites mais escuras e sombrias,
especialmente dos insones de plantão. Mesmo dentro do carro com ar condicionado
ligado no modo "pólo norte" (risos), sinto o calor que ele emite,
como que querendo abraçar a mim e ao mundo de uma só vez e ele consegue, afinal
de contas, Ele é o que é!
Aí lembro da música dos
Paralamas... "Todo dia, o sol da manhã vem e lhes desafia, traz do sonho
pro mundo quem já não queria..." e penso como cada dia é um novo dia,
apesar de sempre parecer o mesmo. Parece-nos mais fácil achar que o dia, as
pessoas e os fatos se repetem, que não mudam nunca, que sempre são e serão os
mesmos. Não há como negar que é mais fácil, mais prático e menos desgastante
pensar assim. Porém também poda a nossa capacidade de acreditar na mudança, no
inesperado, no milagre. Só que mesmo pensando assim, o dia amanhece sempre
diferente, o sol nunca nasce no mesmo lugar, o brilho não tem sempre a mesma
intensidade. As mudanças podem ser até bem sutis, mas ainda assim são mudanças
e mudanças sutis, uma a uma, podem causar verdadeiras revoluções. Mudanças
sutis, são prenúncios das revoluções.
Quase chegando em casa, feliz
pela conversa com o sol, o rádio resolve tocar Eu Quero Ser Feliz Agora do
Oswaldo Montenegro. Ah, para que pressa de chegar em casa com um sol desses?
Mais umas voltas no quarteirão para ouvir a música inteira, apreciando a beleza
de versos como "se joga na primeira ousadia, que tá pra nascer o dia do futuro
que te adora e bota o microfone na lapela, olha pra vida é diz pra ela: eu
quero ser feliz agora!"
Prenúncios!
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