quarta-feira, 31 de julho de 2013

INSPIRADO POR FRANCISCO, EXIJO POBREZA DOS POLÍTICOS QUE ME REPRESENTAM



É inegável como o jeito de ser e de agir do papa conquistou o povo brasileiro. Ele disse que o povo não pede, o povo exige a pobreza de seus sacerdotes, que o povo fica triste quando os consagrados não agem como pobres, ostentando carros do último ano e morando em locais suntuosos.

Algo que os políticos brasileiros têm que estar atentos é que esta afirmação do papa em relação ao povo e seus sacerdotes não se aplica apenas à Igreja, mas também à sociedade e àqueles que representam o povo.

Ser político não é uma obrigação, uma carreira. Mais do que isso, deveria ser um verdadeiro "sacerdócio".
Por raciocínio análogo, enquanto povo, fomos encorajados pelo Papa Francisco a exigir pobreza também de nossos políticos, de nossos representantes, daqueles que dizem ser a nossa "voz".

Não faz sentido que um político tenha regalias que a grande maioria do povo nem mesmo sonha em um dia ter. Se achar ruim, vá fazer outra coisa, vá trabalhar na iniciativa privada, vá fazer um concurso público... 

Eu, como povo, exijo pobreza de quem me representa!

quinta-feira, 20 de junho de 2013

JOVENS ENSINAM NOVO PARADIGMA DA LIDERANÇA




“Não existe nada mais prático do que uma boa teoria”.

 Frase de Kurt Lewin que minha orientadora no mestrado, a Profa. Sônia Calado Dias, não se cansa de repetir. Pois bem, não que eu tivesse dúvidas, muito pelo contrário, mas hoje vi isso acontecendo in loco durante as manifestações que ocorreram em Recife.

Quando dou aula sobre liderança eu sempre começo com a base teórica que afirma que duas premissas são essenciais à liderança:

1. que existam liderados; e
2. que os liderados reconheçam a liderança.

Pode parecer óbvio, e é, porém na prática gerencial do dia-a-dia muitos esquecem das obviedades. Não significa em nenhuma hipótese que na prática a teoria seja outra, pois como disse no começo, faço côro com Kurt Lewin. O que acontece é que o discurso é um e a prática (que esquece a teoria, a boa teoria para ser mais claro) é outra.



Na cena mais forte que assisti na passeata de hoje, um grupo formado por militantes do PT, do PCdoB, da CUT e da UNE, com bandeiras de seus partidos e/ou movimentos, foi cercado pela multidão que os forçou a baixar as bandeiras sob gritos de acusação (oportunistas!) e de súplica (sem partido!). A foto que tirei e vai em anexo mostra os militantes partidários atônitos ante à ação da multidão. Quiseram claramente se aproveitar da força do movimento, pegando carona e quiçá desejando assumir o protagonismo do manifesto, mas o povo não deixou. E o espanto deles acontece justo porque se esqueceram da obviedade de que para liderar é preciso ter liderados que reconheçam a liderança.

E por que o povo não mais reconhece a liderança desses movimentos? A resposta é ainda mais óbvia. Eles deixaram de representar o povo. Pensaram apenas em manter-se no poder, em fazer negociatas, em se infiltrar nos sindicatos e entidades de classe que se calaram ante às injustiças cometidas pelos governos dos quais são, aí sim, representantes. O que aconteceu não deveria deixá-los atônitos por terem sido isolados, pois eles próprios se isolaram das necessidades do povo. Emudeceram diante de toda a corrupção, deixaram um Renan Calheiros assumir a presidência do Senado, fecharam os olhos ante a condenação dos mensaleiros, deixando inclusive alguns deles nas principais comissões do Senado e da Câmara.

Dirão que outros partidos que assumiram o poder antes fizeram a mesma coisa ou pior, como se a política do “somos os menos ruins” justificasse. Dizer que os outros também roubavam é vergonhosamente assumir que estão roubando também, que são, como na expressão popular, “farinha do mesmo saco”.

 Mas o pior dos crimes talvez seja o de roubar sonhos. Quando subiram ao poder numa “onda vermelha”, fizeram o povo acreditar que um Brasil novo e livre da corrupção seria possível. Muitos com lágrimas nos olhos viram seus sonhos se tornarem realidade para depois, com mais lágrimas nos olhos perceberem que o sonho real era na verdade um grande pesadelo.

O que eu vi hoje não foi ausência de lideranças e sim, justamente o contrário. Vi uma multiplicidade de lideranças. Vi centenas de jovens líderes a frente de centenas de pequenos grupos, protestando por um mundo melhor. Representantes, estes sim, dos anseios do povo simples, do povo de classe média, do povo acuado por uma alta carga tributária, do povo que quer escola, do povo que sofre nos hospitais, do povo que é visto com preconceito, do povo que não tem emprego, do povo que simplesmente quer ter o direito de ter uma vida digna sem ter que sustentar uma corja de políticos, de todos os partidos (por isso o grito/súplica de “sem partidos!”), corruptos, que riem do povo e se esbaldam com o dinheiro ganho de forma suada por quem realmente trabalha.

Não é uma ausência de lideranças. É sim uma multiplicidade de lideranças. O que deixa os políticos em uma “sinuca de bico”, porque os seus representantes partidários e militantes não podem ser subornados. Não dá para “comprar” toda uma multidão. Aí ficam querendo enfraquecer o movimento dizendo que os manifestantes estão difusos, que não sabem o que querem, que não têm lideranças, que não podem negociar.

O que eu vi na verdade, esperançoso, foi se concretizar na passeata, um modelo que alguns teóricos há algum tempo insistem que será o mais adequado para a liderança na era do conhecimento, na era digital: o modelo teórico que surge da metáfora de organizações como bandas de jazz. Não é desorganização, mas sim uma organização que segue um novo paradigma, uma nova forma de atingir os objetivos.

Posso estar sendo prematuro. É possível! Mas se todo mundo por aí faz prognósticos, quero fazer também o meu. Então escrevam aí: temos mais a aprender em termos de liderança com  essa juventude que está indo às ruas do que a ensinar, até porque serão eles que vão desenhar as organizações do futuro. Ou melhor, eles já estão desenhando o futuro, hoje.

O “liderar” do #vemprarua vai se transformando rapidamente no”liderar” que  #vemdarua.

sexta-feira, 1 de março de 2013

SORRIA!



Ontem, recebi uma meditação escrita pelo Osho que, em resumo, falava do sorriso, da alegria como uma forma de oração, ou mais ainda, como "a" forma de oração. A mensagem dizia que devemos ser alegres e não tristes. Vinicius em consonância poetizava que "é melhor ser alegre, que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe, é assim como a luz no coração". Creio que eles devem ter razão.

Não quero defender aqui risos forçados, ou escrever um daqueles enunciados a la obras de auto ajuda (que "autoajudam" o autor a ficar rico) que defendem o "sorria sempre!" Não quero mesmo chegar a esse extremo, pois em diversos momentos de nossa vida não há como soltar esse sorriso, ou até haja, mas somos fracos demais para encarar a força de um sorriso.

A questão é que (e pode experimentar) o sorriso sempre melhora a situação. Até aqueles sorrisos falsos que damos às pessoas sem graça ou inconvenientes, melhoram a situação. Ao menos aliviam um pouco a tensão.  Quando estiver num momento triste faça a seguinte experiência. Sorria um pouco, ainda que forçadamente, e perceba o que acontece em seu corpo. Fechar os olhos ajuda na percepção, creio eu. Aí, na sequência, tente franzir o rosto, ou chorar, ou ficar irritado (de certo será bem mais fácil ter essa reação). Aí observe novamente seu corpo. Bem, todas as vezes que eu tentei isso, o corpo parecia um pouco mais leve na hora do sorriso e bem mais pesado na hora da tristeza.

Acontece que na caminhada, levar um corpo mais leve nos ajuda a caminhar por mais tempo, o que não significa dizer que será por muito mais tempo. Um corpo mais leve cansa menos, o que não significa dizer que não será cansativo. Um corpo mais leve é mais fácil de ser amparado pelos outros quando nos tornamos um peso na vida de alguém. E sempre somos pesos na vida de alguém; e sempre temos que carregar pesos em nossas vidas.

Se há uma imagem que sempre vou levar de meus pais, é a de meu pai fazendo minha mãe sorrir. Ele foi sempre a única pessoa que conseguia fazê-la sorrir quando queria. Ela sempre muito séria, por vezes não achava graça em muitas coisas, algumas bobagens em sua maioria vemos hoje, mas meu pai sempre dava um jeito de aliviar tudo com uma de suas palhaçadas, caretas, gestos, piadas, conversas...  E tudo ficava melhor quando ele fazia isso, por vezes caíamos todos numa grande e gostosa gargalhada que terapeuticamente nos fazia esquecer, ainda que por alguns segundos (e alguns segundos já são muito!) dos nossos problemas.

Quantas vezes, passado o problema, não acabamos rindo do que aconteceu? Uma prova difícil na escola, uma discussão com alguém que se ama, um ônibus que queimou a parada, um vendedor que não nos atendeu bem e tantas outras nossas histórias do dia-a-dia que, passadas, passam a fazer parte do nosso repertório particular de histórias a serem contadas no bar da esquina, na reunião com os amigos, na conversa a dois. Então, por que mesmo, não rir logo, não rir já no momento? Rir de si mesmo, vi numa reportagem anos atrás, é de uma importância enorme para a nossa saúde, afirmava um psicólogo. Se é pra sorrir, me lembrei de uma frase (a autoria me é desconhecida) que nos pede para não levar a vida à sério demais, já que não vamos escapar vivos dela mesmo.

Então: sorria! Você não perde nada com isso e talvez até ganhe. E pra quem for muito chato e disser que você pode até perder a amizade de uma pessoa se sorrir na hora errada, talvez o ganho seja ainda maior, pois é melhor não ser amigo de alguém que não suporta o seu sorriso. Infelizmente, a vida está cheia de gente assim, que não sorri, e que não suporta nosso sorriso. Olha, dá até pra sorrir disso... kkkkkk....

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

DIA DA SAUDADE (repost*)

*Hoje, dia 30 de janeiro, é o dia da saudade. Lembrei que no meu blog antigo, há exatos três anos, eu publiquei uma postagem sobre esse dia. Resolvi então republicá-la aqui. Espero que gostem...

Chico Buarque canta que “tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu”, e na sequência busca a resposta para esse sentimento a partir de duas possibilidades: “foi o mundo então que cresceu” ou “a gente estancou de repente”?

Pesquisadores dos efeitos psicológicos do tempo, Zimbardo e Boyd, não perdoam ao nos revelar de forma categórica o que parecemos querer não enxergar: “não há nada que qualquer um de nós possa fazer nesta vida para acrescentar um momento a mais no tempo, e nada permitirá que possamos reaver o tempo mal-empregado.” Ainda assim a gente estanca e mínimos detalhes podem até ser sinais inconscientes desse nosso estancar...

Lembro que quando era criança, minha mãe comprava daqueles calendários onde a cada novo dia devíamos arrancar a folhinha do dia anterior para dar vez à folhinha do dia de hoje. Era uma disputa entre mim e meus irmãos para ver quem conseguia arrancar primeiro a folhinha. Em não raras vezes nos pegávamos esperando dar meia-noite para puxar a nova folha. Éramos crianças, não temíamos o tempo, estávamos sempre ávidos pela mudança, pelo novo dia, pelo espanto que ele trazia aos nossos olhos. A passagem dos dias era celebrada com a alegria da abertura ao desconhecido, ao imprevisível, à novidade.

Vi-me hoje diante de um desses calendários, que comprei ao final de 2009, de certo modo para fazer memória dos tempos passados, tempo onde se olhava para o futuro em cada dia presente. Mas os anos passaram, ou como diria o Renato Russo, “mudaram as estações” e mesmo que digamos que aparentemente “nada mudou”, “mas eu sei que alguma coisa aconteceu”, pois há algo “assim tão diferente”. A diferença era que o calendário marcava o dia 27 de janeiro. Só que já era dia 30 de janeiro, e dia já adiantado, com sol do agreste à pino...

Arranco a folha do dia 27 sem nem lembrar ao certo o que aconteceu nesta data. Faço o mesmo com os dias 28 e 29. Enfim, emparelho o meu calendário com o calendário do mundo. Da mesma forma rápida com a qual arranquei as páginas do calendário, percebo que, como naquela música antiga do Roberto Carlos, “os dias passam correndo”.

Percebo ainda na folhinha, mais um sinal. A palavra “sinal” já não me parece, como antes, tão mais adequada do que a palavra “coincidência”, mas ainda assim insisto, sabe-se lá porque, em usá-la. Na folhinha dizia que 30 de janeiro é o “dia da saudade”.

Até procurei na Internet, mas não encontrei nenhuma razão específica para justo o dia 30 de janeiro ser dedicado à saudade. Talvez por ser o dia do assassinato de Gandhi, sobre o qual Einstein certa vez disse “que as gerações por vir terão dificuldade em acreditar que um homem como este realmente existiu e caminhou sobre a Terra”. O mundo sente saudades de Gandhi, de “Gandhis”. Quem sabe talvez, possa ser devido ao fato de que a última apresentação pública dos Beatles antes da separação da banda ocorreu numa tarde fria de 30 de janeiro. Saudades de um sonho que acabou!

De minha parte fiquei pensando se o passar de 30 dias do novo ano não seria aquele tempo suficiente para percebermos que toda aquela euforia, um mês antes, com o novo ano a se iniciar não seria apenas uma forma de fingir para nós mesmos a realidade de que o bom era o “ano velho”, os dias que se foram, a infância de nossas vidas, o símbolo de uma época de sonhos que hoje percebemos como ilusão. Em sendo assim seria normal sentir saudades.

Mas o que falar sobre saudade? É paradoxal ter dificuldades em explicar algo que se é tão íntimo. Se no “Show do Milhão” o Silvio Santos permitia que fosse solicitada a ajuda dos universitários, me permito então pedir a ajuda dos poetas, para que me ajudem a render homenagem à saudade no dia a ela dedicado, ao menos no calendário civil, porque no calendário cordial, todo dia é dia da saudade:


“Saudade é um dos sentimentos mais urgentes que existem”
(Clarice Lispector)

“O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo...”
(Mário Quintana)

“Quando se ouve boa música fica-se com saudade de algo que nunca se teve e nunca se terá”
(Samuel Howe)

“Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue”
(Adriana Falcão)

“Também temos saudade do que não existiu, e dói bastante”
(Carlos Drummond de Andrade)
“Deus existe para tranquilizar a saudade”
(Rubem Alves)

“Dos nossos planos é que tenho mais saudade”
(Renato Russo)

“Conservar algo que possa recordar-te seria admitir que eu pudesse esquecer-te”
(William Shakespeare)
“Saudade é um sentimento que quando não cabe no coração, escorre pelos olhos”
(Bob Marley)

domingo, 20 de janeiro de 2013

Um Caso na Rússia... (ou "Isso Tudo Passará!')



Recebi um elogio por esses dias. Vindo de quem veio e dada a importância dessa pessoa em minha vida, de certo que é mais do que um elogio. Além disso, a típica franqueza da pessoa, franqueza por vezes ácida, quando necessário, me deixou obviamente lisonjeado, pois sabia que não era algo para me bajular.  Porém, o que foi falado gerou em mim uma dúvida. Se não uma grande dúvida, ao menos algo que me fez refletir nas horas de sobra que se tem quando se está cuidando de uma pessoa doente durante a noite.

Explico. Disse-me essa pessoa que admirava a minha capacidade de relacionar coisas aparentemente díspares, especialmente ao escrever os textos desse blog, tal como unir um filme com a passagem de um livro com o trecho de uma poesia e tudo isso associando a um caso na Rússia.

Caso na Rússia?!?!?!

Confesso que na distração causada pela colocação feita, quase bati com o carro (estava ao volante). A pessoa riu e disse que era apenas um exemplo. Menos mal, porque por mais que eu tentasse eu não conseguia lembrar se havia escrito sobre algo que pudesse ter, ainda que levemente, alguma conotação, digamos, russa.

Mas e onde entra a dúvida? Fiquei me perguntando se seria mesmo capaz de fazer relação tão esdrúxula em um texto e me propus, quase que num auto-desafio, a tentar escrever uma postagem (essa!) ligando filme, livro, poesia e... caso na Rússia.

Enquanto escrevo sinto o calor que se instalou definitivamente nas últimas semanas por essas bandas. Para dormir, já faz alguns dias que uma pequena garrafinha com água fica ao meu lado para, acreditem, molhar os lençóis e travesseiros na tentativa quase estéril de diminuir a sensação de "sauna particular" com que vem se confundindo  a minha cama.

Ironicamente, a Internet apresenta a Europa como tendo um dos mais rigorosos invernos dos últimos anos. Na noite anterior, a temperatura na Rússia chegou a 34 graus... NEGATIVOS! Movido por mera curiosidade dei uma pesquisada no google e descobri que a temperatura interna dos nossos freezers é de 10 graus negativos em média. Ou seja, o inverno por lá está russo (trocadilho infame!). São 24 graus negativos a mais do que o congelador de casa.

Enquanto eu aqui reclamo do calor, eles lá, certamente reclamam do frio excessivo. Moramos na mesma nave-mãe, o planeta Terra, que nos permite viajar neste universo, e estamos sujeitos a sensações tão opostas, porém sempre passageiras. Embora seja muito improvável que tenhamos aqui um inverno tão russo, e por lá um verão tão causticante, sabemos que isso tudo vai passar.

Sim, uma hora o calor deixa de ser tão quente e o frio deixa de ser tão congelante. Na verdade tudo na vida passa (dá até pra associar ao texto uma piada, ainda que dessas meio sem graça, onde um dito popular é complementado: "tudo na vida é passageiro, exceto o cobrador - ou trocador - e o motorista).  Isso me veio a mente, porque por esses dias me deparei  com um livrinho de contos onde constava uma fábula sufi em que um rei pede a seus sábios uma frase de no máximo três palavras que ele possa usar gravada no seu novo anel de diamantes, de modo a que, ao ler a frase, essa possa lhe ajudar nos piores e nos melhores momentos. Os sábios nessas horas acabam travando por não terem a capacidade de síntese dos poetas e um velho amigo do pai do rei, um trovador, um poeta, sugere a frase "isso tudo passará!".

Assim, quando o rei um dia se viu em desespero após a tomada do seu reino por bárbaros, olhou para o anel e refletiu sobre o conteúdo nele gravado e, mais calmo percebeu que tudo aquilo passaria, como de fato passou. Ele reorganizou seus pensamentos e isso o ajudou a reorganizar suas estratégias que, por sua vez, ajudaram a reorganizar seu exército e seus mantimentos. Assim, conseguiu expulsar os inimigos e foi recebido em carro aberto pelo povo do reino que entusiasticamente saudava a competência da liderança real. Isso o deixou em êxtase e quando se encontrava no ápice dessa sensação viu em meio à multidão o velho trovador, amigo de seu pai, que por meio de gestos lhe pediu para ler novamente o que estava gravado no anel. O Rei achou estranho aquele pedido, mas meio que reflexivamente e confuso olhou para o anel e leu "isso tudo passará!". E realmente o momento de glória diluiu-se no cotidiano do reino, passando o povo, pouco tempo depois, a clamar de forma contundente por políticas públicas mais eficazes durante a gestão do rei.

Coincidentemente, o Osho comenta esse conto e sugere que pensemos sobre ele intensamente, sempre, dia após dia, buscando tirar reflexões, segundo ele, são fartas, a partir dessas, aparentemente simples, palavras. Minha reflexão de hoje foi a de que, pensando assim, acabamos por nos permitir um pouco mais de autonomia na condução de nossas vidas.

Se nos momentos ruins, reconhecermos que tudo aquilo será passado em breve, esse "breve" tende a chegar mais rápido pois nos traz a possibilidade do novo dia, e assim mais relaxados, conseguimos força para reorganizar nossas vidas. Do mesmo modo, pensar que tudo passa quando estamos vivendo um momento bom, nos ajuda, quando encaramos de modo positivo, a aproveitar cada instante desse momento, sem desperdiçar nosso tempo com aquilo que não constrói. Passamos, portanto, a viver mais intensamente e em não raras vezes, viver intensamente é a melhor maneira de viver mais e melhor, prolongando ao máximo a "vida" que nos é oferecida a cada nascer do sol.

Como na música do Legião Urbana, "temos todo o tempo do mundo, todos os dias, antes de dormir, lembro e esqueço como foi o dia..." Pois é, talvez precisemos mesmo a cada dia, exercitar esse lembrar e esquecer, de modo que cada novo dia seja um recomeço, que tenhamos o ânimo de uma criança para (re)descobrir o mundo a cada dia, como no lindo filme "como se fosse a primeira vez" onde o personagem do Adam Sandler tem a cada dia que fazer com que a personagem da Drew Barrymore se apaixone por ela, já que toda noite, devido a um acidente anos antes, ela apaga da memória todo o dia vivido.

Contudo é bom nunca esquecer de que é preciso estar sempre em movimento, não adianta ficar parado. O "isto tudo passará" serve apenas como uma catalisador. É preciso fazer nossa parte, como na estória (sim, como o Rubem Alves, acho necessária a diferença entre estória e história, ainda que a gramática tenha aposentado a primeira versão) que diz que todos os dias amanhece na selva africana e a gazela precisa correr mais rápido que o leão para não ser devorada e o leão correr mais rápido que a gazela para não morrer de fome, de modo que, como moral da estória, não importa se somos como os leões ou como as gazelas, quando o dia amanhecer temos que começar a correr se quisermos sobreviver.

Enquanto escrevo o sol já vai ficando alto, o que significa que é preciso aproveitar esse novo dia, essa nova manhã de domingo, seja ela portadora de bons momentos ou de dificuldades relativas, pois isso tudo passará.