No tocante às polêmicas
via Internet, 2016 começou do jeito que terminou 2015: com supostos triângulos
amorosos (e respectivos "barracos") no vórtice das grandes redes
sociais. Se a Fabíola, o "gordinho da saveiro" e o "marido corno
destruidor de saveiros" fechou o ano, quem abriu foi nada menos que a diva
poderosa hiper mega idolatrada salve salve Ivete Sangalo, que em pleno show se
prestou a expressar seu ciúme em público com o agora mais novo meme da rede:
"quem é essa aí, papai?" ao ver, do palco, seu marido conversando com
uma mulher.
Em tempos de Facebook,
Whatsapp, Snap, Youtube, Twitter e afins menos conhecidos, é lógico que a
contenda não iria passar desapercebida. Se Fabíola não passou, quanto mais
Ivete. É incrível a capacidade das redes sociais de catalisar as disfunções
resultantes da confusão entre o público e o privado. Se isso acontecia
eventualmente com algumas personalidades mais significativas, hoje, qualquer um
pode ganhar o mundo nas infinitas seções de comentários disponíveis.
O que antigamente era
restrito aos "pés" de portas ou janelas, bares e bancos de praça,
ganha hoje espaço nos mais improváveis locais. Basta haver sinal de rede e os
fuxicos, como sempre maliciosos e superficiais, estarão se multiplicando numa
impressionante curva exponencial ascendente. Como cada smartphone é hoje uma
agência de notícias portátil e equipada com os mais modernos e instantâneos
meios de transmissão audiovisual, o poder que cada indivíduo carrega nas mãos
ao portar um "aparelhinho" desses é incomensurável. O céu (sem wifi)
é o limite.
Se, no caso da
"novela" lá da Fabíola, o deixar que a história venha a público possa
até ser considerado algo compreensível - nunca pelo sentimento de traição,
porque isso de "sangue quente" é a maior desculpa esfarrapada de
todos os tempos, e sim por se tratar de
pessoas que não estão acostumadas com a vida em público, em resumo,
"amadores" - o mesmo não pode ser dito de quem é personalidade
pública e que cresceu dentro do meio e está acostumado com a repercussão que cada
um de seus movimentos causa.
Sim, estou fazendo uma
crítica ao posicionamento da Ivete (artista que aliás, admiro muito). Não que
ela não tenha o direito a "ser humana" também, mas qual mesmo a
significativa diferença do que ela fez (por muito menos) para o que fez o
marido da Fabíola? Engraçado foi ver nas redes sociais, as mesmas pessoas que
criticaram o marido traído por ter publicizado a história, defendendo a Ivete
dizendo, por exemplo, que a "Ivete arrasa". Ora, dois pesos e duas
medidas, bem distintas.
Mas a minha crítica não
diz respeito à traição (que é sempre algo muito particular e íntimo dos
envolvidos, ou pelo menos deveria ser) e nem mesmo da falta de coerência de
quem apóia um e ataca outro em situações similares, mas sim dessa tendência cada
vez mais acentuada, que citei antes, de confundir o privado com o público.
Sou o primeiro a defender
que não existe como separar, totalmente, por exemplo, a vida pessoal da vida
profissional (que é apenas um dos casos da relação privado e público e talvez
nem seja o exemplo mais significativo dessa relação), mas isso no sentido de
que é a mesma pessoa que vive os dois "personagens" e que, portanto,
um vai afetar o outro. Isso, contudo, não significa que o extremo inverso deva
acontecer e passemos a incentivar uma mistura completa dos papéis. Já imaginou
se o marido descarregar todos os dias a sua raiva do patrão na mulher e nos
filhos ou se o vendedor, todos os dias, atender mal o cliente porque brigou com
a esposa? Há espaços definidos, que devem ser ocupados pela mesma pessoa, mas
em cada um desses espaços se espera alguns comportamentos básicos de quem os
ocupa.
Não quero tomar Ivete pra
Judas, mas é importante entender que quem assume uma função pública
profissionalmente precisa manter determinadas posturas. Vai conseguir exercer
isso sempre? Não! Somos todos humanos e sujeitos a falhas, mas o que me parece
grotesco em toda essa história não são os personagens principais, mas a forma
como agem os expectadores. Falhar é humano. Compreender e até justificar os
porquês das falhas é algo extremamente aceitável e louvável eu diria, agora,
querer transformar a falha em acerto, vibrar com a falha, dar apoio e pior
ainda, replicar a falha ("ah, se a Ivete faz, eu também posso!"),
isso que me soa muito estranho.
Será a solução, postar o
erro no Youtube? Chamar a atenção em pleno show? Por que estamos acentuando
cada vez mais o julgamento rápido e a justiça pelas próprias mãos? E mais
ainda, por que precisamos fazer isso em público? Por que não discutir isso depois
em foro íntimo? Por que precisamos ser notados, fazer com que os outros vejam
nossa situação?
Pra mim, a única resposta
que se ajusta a essas perguntas é: VAIDADE. Pura e completa vaidade. "Eu?
Ivete Sangalo? Sendo preterida por 'essazinha' aí?", "Eu? o amigão? o
marido sarado que paga a conta da manicure? Sendo trocado pelo cara
"gordinho"?" Não à toa, o diabo no filme "Advogado do
Diabo", encerra dizendo: "Vaidade! Meu pecado preferido". E se
preferirem uma referência mais sagrada, lá no comecinho de Eclesiastes vemos:
"vaidade das vaidades! Tudo é vaidade." O mais impressionante é que
nem nos tocamos de que como a vaidade é ruim, pois sempre temos justificativa
pra ela. Luxúria ninguém discute que não seja "pecado", mas a vaidade
é justificada com os "ela arrasa" e os "ele é macho mesmo"
da vida.
E essa vaidade parece
surgir de um sentimento de posse. Tratamos o outro como uma coisa, um objeto,
um troféu, uma propriedade nossa. Não quero aqui de modo algum justificar uma
traição, por exemplo, mas a Fabíola e o marido da Ivete, tem o direito de
fazerem o que bem quiserem da própria vida, a isso chamamos de "livre
arbítrio". Aos "santos"
de plantão, que dirão que existe um "acordo" entre as partes, peço que
aquele que nunca quebrou uma promessa e nunca mentiu, que atire a primeira
pedra. Inclusive, se um acordo, ou promessa, ou contrato não pudesse ser
quebrado, não existiria livre arbítrio.
Mas falarão que haverá consequências.
Em momento algum afirmei que não existiriam consequências, pois é justo no
gerenciamento das consequências que reside o fundamento do livre arbítrio. Eu
posso fazer o que quiser da minha vida. Mas o outro também pode não mais me
querer fazendo aquilo que quero fazer. Muito justo, aliás! Você não quer uma
mulher que vá para o motel com seu amigo? Justo! Faça como o Pablo, arrume as
malas e vá embora. Ou mande ela embora. Não vai ser quebrar o carro (ou a cara
dela ou do amante) e divulgar na Internet que vai resolver o seu problema. Não
quer que seu marido converse com nenhuma mulher em situação suspeita enquanto
você faz um show (sendo desejada por muitos, inclusive)? Manda ele embora! Vai
embora! Não é dando chilique no palco, deixando público seu incômodo, que a
situação vai ser resolvida.
Que tal uma conversa a
dois, sem "torcida" a favor ou contra, sem dramatizar a sua vida
pessoal, tentando ganhar "curtidas" de apoio e "compartilhamentos"
de sua suposta dor? Venhamos e convenhamos, nem eu e nem você temos nada a ver
com a vida da Fabíola ou da Ivete. Da primeira, uma desconhecida gerente de
banco, não nos interessa nada. Da segunda, o que pode nos interessar é que ela nos
ajude a fazer "rolar a festa", "levantando poeira", pois a
música tem esse poder de ser "beleza rara" em nossas vidas. E no foro
íntimo e pessoal? Aí é que não nos interessa mesmo.
Perfeito! que bom que voltou com o blog, são poucos que dá prazer em ler.
ResponderExcluir"Quem é essa aí Papai?". Esta poderia ter sido uma pergunta de minha filha dirigida a mim, caso os Céus não tivessem conspirado a meu favor. Não vivo com minha esposa. Sou no entanto um homem casado que mora sozinho. A história é longa. A vida me fez magnificamente um homem como que um eunuco, tudo por amor ao reino dos Céus, aqueles mesmos Céus que conspiraram a meu favor. Deu pra entender?...não?...eu também não. Agora é que não vamos entender nada: é que há uma transcendência superior que nos conduz e humilha nossa fraca e pretensa transcendência contingente e particular...:)
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