segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

QUEM É ESSA AÍ, PAPAI? (ou Vaidade das Vaidades)



No tocante às polêmicas via Internet, 2016 começou do jeito que terminou 2015: com supostos triângulos amorosos (e respectivos "barracos") no vórtice das grandes redes sociais. Se a Fabíola, o "gordinho da saveiro" e o "marido corno destruidor de saveiros" fechou o ano, quem abriu foi nada menos que a diva poderosa hiper mega idolatrada salve salve Ivete Sangalo, que em pleno show se prestou a expressar seu ciúme em público com o agora mais novo meme da rede: "quem é essa aí, papai?" ao ver, do palco, seu marido conversando com uma mulher.

Em tempos de Facebook, Whatsapp, Snap, Youtube, Twitter e afins menos conhecidos, é lógico que a contenda não iria passar desapercebida. Se Fabíola não passou, quanto mais Ivete. É incrível a capacidade das redes sociais de catalisar as disfunções resultantes da confusão entre o público e o privado. Se isso acontecia eventualmente com algumas personalidades mais significativas, hoje, qualquer um pode ganhar o mundo nas infinitas seções de comentários disponíveis. 

O que antigamente era restrito aos "pés" de portas ou janelas, bares e bancos de praça, ganha hoje espaço nos mais improváveis locais. Basta haver sinal de rede e os fuxicos, como sempre maliciosos e superficiais, estarão se multiplicando numa impressionante curva exponencial ascendente. Como cada smartphone é hoje uma agência de notícias portátil e equipada com os mais modernos e instantâneos meios de transmissão audiovisual, o poder que cada indivíduo carrega nas mãos ao portar um "aparelhinho" desses é incomensurável. O céu (sem wifi) é o limite.  

Se, no caso da "novela" lá da Fabíola, o deixar que a história venha a público possa até ser considerado algo compreensível - nunca pelo sentimento de traição, porque isso de "sangue quente" é a maior desculpa esfarrapada de todos os tempos,  e sim por se tratar de pessoas que não estão acostumadas com a vida em público, em resumo, "amadores" - o mesmo não pode ser dito de quem é personalidade pública e que cresceu dentro do meio e está acostumado com a repercussão que cada um de seus movimentos causa. 

Sim, estou fazendo uma crítica ao posicionamento da Ivete (artista que aliás, admiro muito). Não que ela não tenha o direito a "ser humana" também, mas qual mesmo a significativa diferença do que ela fez (por muito menos) para o que fez o marido da Fabíola? Engraçado foi ver nas redes sociais, as mesmas pessoas que criticaram o marido traído por ter publicizado a história, defendendo a Ivete dizendo, por exemplo, que a "Ivete arrasa". Ora, dois pesos e duas medidas, bem distintas.

Mas a minha crítica não diz respeito à traição (que é sempre algo muito particular e íntimo dos envolvidos, ou pelo menos deveria ser) e nem mesmo da falta de coerência de quem apóia um e ataca outro em situações similares, mas sim dessa tendência cada vez mais acentuada, que citei antes, de confundir o privado com o público. 

Sou o primeiro a defender que não existe como separar, totalmente, por exemplo, a vida pessoal da vida profissional (que é apenas um dos casos da relação privado e público e talvez nem seja o exemplo mais significativo dessa relação), mas isso no sentido de que é a mesma pessoa que vive os dois "personagens" e que, portanto, um vai afetar o outro. Isso, contudo, não significa que o extremo inverso deva acontecer e passemos a incentivar uma mistura completa dos papéis. Já imaginou se o marido descarregar todos os dias a sua raiva do patrão na mulher e nos filhos ou se o vendedor, todos os dias, atender mal o cliente porque brigou com a esposa? Há espaços definidos, que devem ser ocupados pela mesma pessoa, mas em cada um desses espaços se espera alguns comportamentos básicos de quem os ocupa.

Não quero tomar Ivete pra Judas, mas é importante entender que quem assume uma função pública profissionalmente precisa manter determinadas posturas. Vai conseguir exercer isso sempre? Não! Somos todos humanos e sujeitos a falhas, mas o que me parece grotesco em toda essa história não são os personagens principais, mas a forma como agem os expectadores. Falhar é humano. Compreender e até justificar os porquês das falhas é algo extremamente aceitável e louvável eu diria, agora, querer transformar a falha em acerto, vibrar com a falha, dar apoio e pior ainda, replicar a falha ("ah, se a Ivete faz, eu também posso!"), isso que me soa muito estranho. 

Será a solução, postar o erro no Youtube? Chamar a atenção em pleno show? Por que estamos acentuando cada vez mais o julgamento rápido e a justiça pelas próprias mãos? E mais ainda, por que precisamos fazer isso em público? Por que não discutir isso depois em foro íntimo? Por que precisamos ser notados, fazer com que os outros vejam nossa situação? 

Pra mim, a única resposta que se ajusta a essas perguntas é: VAIDADE. Pura e completa vaidade. "Eu? Ivete Sangalo? Sendo preterida por 'essazinha' aí?", "Eu? o amigão? o marido sarado que paga a conta da manicure? Sendo trocado pelo cara "gordinho"?" Não à toa, o diabo no filme "Advogado do Diabo", encerra dizendo: "Vaidade! Meu pecado preferido". E se preferirem uma referência mais sagrada, lá no comecinho de Eclesiastes vemos: "vaidade das vaidades! Tudo é vaidade." O mais impressionante é que nem nos tocamos de que como a vaidade é ruim, pois sempre temos justificativa pra ela. Luxúria ninguém discute que não seja "pecado", mas a vaidade é justificada com os "ela arrasa" e os "ele é macho mesmo" da vida.

E essa vaidade parece surgir de um sentimento de posse. Tratamos o outro como uma coisa, um objeto, um troféu, uma propriedade nossa. Não quero aqui de modo algum justificar uma traição, por exemplo, mas a Fabíola e o marido da Ivete, tem o direito de fazerem o que bem quiserem da própria vida, a isso chamamos de "livre arbítrio".  Aos "santos" de plantão, que dirão que existe um "acordo" entre as partes, peço que aquele que nunca quebrou uma promessa e nunca mentiu, que atire a primeira pedra. Inclusive, se um acordo, ou promessa, ou contrato não pudesse ser quebrado, não existiria livre arbítrio. 

Mas falarão que haverá consequências. Em momento algum afirmei que não existiriam consequências, pois é justo no gerenciamento das consequências que reside o fundamento do livre arbítrio. Eu posso fazer o que quiser da minha vida. Mas o outro também pode não mais me querer fazendo aquilo que quero fazer. Muito justo, aliás! Você não quer uma mulher que vá para o motel com seu amigo? Justo! Faça como o Pablo, arrume as malas e vá embora. Ou mande ela embora. Não vai ser quebrar o carro (ou a cara dela ou do amante) e divulgar na Internet que vai resolver o seu problema. Não quer que seu marido converse com nenhuma mulher em situação suspeita enquanto você faz um show (sendo desejada por muitos, inclusive)? Manda ele embora! Vai embora! Não é dando chilique no palco, deixando público seu incômodo, que a situação vai ser resolvida. 

Que tal uma conversa a dois, sem "torcida" a favor ou contra, sem dramatizar a sua vida pessoal, tentando ganhar "curtidas" de apoio e "compartilhamentos" de sua suposta dor? Venhamos e convenhamos, nem eu e nem você temos nada a ver com a vida da Fabíola ou da Ivete. Da primeira, uma desconhecida gerente de banco, não nos interessa nada. Da segunda, o que pode nos interessar é que ela nos ajude a fazer "rolar a festa", "levantando poeira", pois a música tem esse poder de ser "beleza rara" em nossas vidas. E no foro íntimo e pessoal? Aí é que não nos interessa mesmo.

2 comentários:

  1. Perfeito! que bom que voltou com o blog, são poucos que dá prazer em ler.

    ResponderExcluir
  2. "Quem é essa aí Papai?". Esta poderia ter sido uma pergunta de minha filha dirigida a mim, caso os Céus não tivessem conspirado a meu favor. Não vivo com minha esposa. Sou no entanto um homem casado que mora sozinho. A história é longa. A vida me fez magnificamente um homem como que um eunuco, tudo por amor ao reino dos Céus, aqueles mesmos Céus que conspiraram a meu favor. Deu pra entender?...não?...eu também não. Agora é que não vamos entender nada: é que há uma transcendência superior que nos conduz e humilha nossa fraca e pretensa transcendência contingente e particular...:)

    ResponderExcluir

Deixe seu comentário, sua sugestão, sua crítica!