sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Melancolia

“E aí? Gostou do filme?”

 Por vezes o problema não está na resposta, mas na pergunta feita. É exatamente esse o pensamento que me veio, ao ouvir tal pergunta após ter ido ao cinema assistir o novo filme do Lars Von Trier, “Melancolia”. Inclusive, até a palavra “assistir” parece inadequada, melhor seria substituí-la por “experimentar”. Gostar ou não gostar é algo muito superficial para essa experiência, que não sei se teria coragem e, principalmente, estômago para repetir, até porque não é todo dia que se está disposto a sair do cinema com uma sensação de “soco na boca do estômago” que soa bem mais literal do que figurada.

 Mas se me perguntarem: “você recomenda?”, minha resposta imediata seria que não só recomendo o filme, como o classifico como uma daquelas coisas que não se deve deixar de experimentar. Mas insisto, se a pessoa é do tipo que precisa ver respondida a questão do gostar ou não gostar, é melhor ir assistir aos Smurfs. Esse eu gostei muito. Mas Melancolia é mais que um filme, é uma experiência que, por acaso, se passa na tela. Se bem que a sensação mais aproximada é a de que a experiência se passa mesmo dentro de si.
 
Outras advertências para tirar o estímulo dos que querem ver um cinema tradicional: o filme é longo, a história é lenta, as tomadas são feitas à mão, os diálogos são angustiantes, as personagens são complexas e a vontade de ir embora é constante, embora ninguém ouse se levantar nem para esticar as pernas já que o filme tem essa condição de repulsão e atração elevada ao extremo. Obviamente características e momentos de vida particulares podem atenuar ou acentuar essas condições, mas a julgar pela fisionomia de quem sai da sala de projeção, a única diferença parece ser o tamanho da dor (sempre elevada) do tal “soco” que mencionei. Depois, não digam que não avisei.

Agora se após todas essas advertências, a pessoa estiver interessada em experimentar algo novo que vai além do cinema, é centrar a atenção nas irmãs personagens centrais da trama, Justine e Claire, magistralmente interpretadas por Kirsten Dunst e Charlotte Gainsbourg , que simbolizam o que há de mais alentador e cruel na lucidez extremada e na fuga consciente da realidade. É meio que impossível, quando se é franco consigo mesmo, não se reconhecer entre uma das duas posturas antagônicas.

Melancolia é um planeta, é um sentimento, é uma condição de existência, é o fim ainda em vida, é, usando figura de linguagem citada no filme, querer correr e não conseguir por estar com as pernas amarradas por um fio de lã. Melancolia é aceitar a realidade, é negar a realidade, é ser a própria expressão da realidade. Melancolia...

P.S.: em Recife o filme está sendo exibido apenas no Cinema da Fundação, de terça a domingo, 17h30 e 20h. R$8,00 (inteira) e R$4,00(meia). Nas quartas-feiras a entrada é gratuita para professores. Eu fui na terça; dou aula nas quartas... :/ :) :P

6 comentários:

  1. Muito bom, Luiz! Da mesma forma que pelo planeta, é impossível não ser atingido por esse filme..

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  2. Obrigado Débora, você fez uma boa síntese das minhas impressões sobre o filme... seu "olhar" é sempre bem atento (risos)

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  3. vc conseguiu traduzir tudo o que senti

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  4. Na época da estréia não assisti o filme pois perdi a oportunidade, meses depois ela aparece em um dos cinemas aqui de minha cidade, incrivel, vc descreveu tudo, Melancolia é um filme que te faz "sentir", eu não assistiria de novo pois não teria folego, e pra ajudar antes de entrar na sessão comecei a ter febre e resolvi tomar um analgésico, 15 minutos depois não satisfeito tomei outro comprimido, pra que isso!!!! Acredito que caiu a pressão e fiquei meio nauseado durante a sessão, parece que só atenuou a melancolia kkkk Abraços.

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  5. Pois é Alex, ironicamente os medicamentos devem ter potencializados ainda mais a experiência do filme. Obrigado pelo comentário. O tempo curto nesse final de ano tem me impedido de colocar novas postagens no ar, mas fique a vontade para passar por aqui sempre que desejar. Abraços!

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