segunda-feira, 8 de agosto de 2011

De Dentro

Ele abriu a Bíblia em busca de uma mensagem. Fora ensinado que com fé, pedindo a Deus uma palavra, ao abrir a bíblia encontraria ali suas respostas. Como sempre achou mais fácil entender as mensagens do novo testamento, especialmente dos evangelhos, sempre dava um jeitinho da “aleatoriedade” da abertura cair nessa sua área preferida do livro sagrado. Foi o que mais uma vez fez. Só que nessa hora um vento vindo do nada (leia-se: do ventilador ligado) de súbito fez passar inúmeras páginas em direção ao testamento antigo. Parou num livro, que se não for o menor, é sério candidato.
 

O livro de Jonas tinha apenas quatro capítulos, curtos, bem curtos, diga-se de passagem. Seus olhos pararam sobre o segundo capítulo, onde Jonas, que havia sido engolido por um grande peixe, de dentro das entranhas do animal faz a Deus uma prece. Seu destino parecia já definido, o fim já se aproximara, mas Jonas agradecia a Deus por ter sido engolido pelo peixe. A situação poderia ser pior, pois ali, mesmo diante de tanta dor, ele ainda vivia. E a dor, a escuridão, o mal cheiro , a náusea, de modo irônico o protegia da dor maior causada pelo frio das águas, da escuridão maior da noite de tormenta, do mal cheiro maior de seu próprio apodrecimento, da náusea maior de ser levado a esmo pela correnteza em meio à tempestade. Teria ao menos tempo, ali dentro do animal, para uma última oração, um último instante de lucidez. E no versículo 10 “então o Senhor ordenou ao peixe, e este vomitou Jonas na praia”. Tudo o que se foi vivido preparou Jonas para que ele chegasse ao seu destino.
 

E Ele fechou sua bíblia e rezou a Deus uma oração em que pedia ao menos para estar dentro de um grande peixe e não do lado de fora, à deriva, na tempestade. E se ele teve tempo de rezar é porque certamente ele está sim dentro do peixe, caso contrário ele não conseguiria sobreviver. Para enxergar isso, falta-lhe apenas um pouco daquela fé que ele ouviu falar mais tarde, naquele mesmo dia, na missa, quando Jesus andou sobre as águas, segurando o braço de Pedro que tentara o mesmo, quase se afogando nas ondas revoltas de seus próprios medos.

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