domingo, 14 de agosto de 2011

Expectativas

Uma das principais teorias sobre motivação afirma que a motivação é a resultante da interação entre expectativas (fins desejados), instrumentalidades (meios) e valências (valores). Assim, toda e qualquer ação acaba acontecendo porque esperamos ganhar algo (ou ao menos não perder) ao realizar a ação, porque temos os meios para tal e porque damos um valor significante ao fato. Se qualquer um dos componentes deste tripé for nulo, a motivação deixa de existir. Precisamos desejar, poder e querer.

Na filosofia oriental é comum encontrarmos a explicação de que a razão de nossas angústias, dores e sofrimentos reside no desejar. O nada desejar seria, portanto, a forma de trazer paz para si mesmo. E isso faz sentido utilizando esta mesma teoria da expectância e seu tripé. Quando existe um desejo, elaboramos as mais diversas estratégias para termos a instrumentalidade, os meios, as condições necessárias à sua realização. Uma vez que tenhamos dispensado energia suficientemente grande para desejar e poder, fica difícil não dar valor a tanta energia gasta e por vezes, acabamos por emprestar às coisas, às pessoas, aos fatos, valores maiores do que mereçam. Inclusive, essas coisas, essas pessoas, esses fatos nem sempre querem ser assim tão importantes.

Talvez aí resida a razão das constantes decepções que temos com outras pessoas. É provável, que elas sejam até em parte inocentes nesse processo que começa em nós mesmos. Criamos algumas expectativas em relação aos outros, ao que queremos deles, ao potencial que achamos que possuem, à forma como os idealizamos. Por vezes, essas pessoas nem percebem nossos desejos de que elas sejam algo que nunca disseram ser. 

Só que uma vez que tenhamos criado toda uma expectativa em torno dessas pessoas, partimos para algo mais. Saímos da idealização e entramos no campo do planejamento para consecução do plano de fazer do outro, senão nossa imagem e semelhança, a imagem e semelhança daquilo que desejamos que elas sejam. E nesse processo passamos a investir toda a nossa economia de energias, todos os nossos esforços, para ver realizado nos outros os nossos próprios anseios. O empenho é tão grande de nossa parte para que a idealização se transforme em realização que entramos num caminho de difícil retorno onde nos resta, depois de gastar todo combustível que temos, considerar que aquele é o melhor caminho, o mais perfeito, o mais ideal. Nesse momento passamos a compartilhar da fala da raposa do pequeno príncipe, onde esta sugere que o tempo gasto com a rosa é o que a torna importante para nós. Não são as qualidades ou defeitos da rosa que a tornam importante, não é o valor intrínseco da rosa que importa, mas o tempo que gastamos com ela, desejando, elaborando meios para que ela seja igual ao que imaginamos que ela deveria ser, quando ela não é.

Aí então nos deparamos com os limites dos outros e vemos que eles nunca foram dignos de nossas expectativas. Que tudo que imaginamos estava em nós e não neles. Então, o valor que damos a essas pessoas cai até mais do que as ações da bolsa de valores em épocas de crise financeira, passando a beirar a nulidade. E assim inicia o processo inverso. Sem querer, sem valorizar os outros, passamos a não mais precisar elaborar planos mirabolantes para que sejam os relicários de nossos sonhos,  e assim, anulamos também a instrumentalidade. Sem os instrumentos de transformação de imaginação em realização, passamos a nos frustrar e as nossas expectativas, os nossos desejos, passam a tender também a zero. Quando os três itens do tripé se anulam, anula-se junto qualquer motivação que pudesse existir de nós para com os outros. E assim, vamos seguindo a vida, entre desejos e frustrações, em parte por culpa dos outros, que também gostam de ser desejados, utilizados e queridos, mas certamente por nossa culpa, nossa tão grande culpa de olharmos para os outros não como eles se nos apresentam, mas em como gostaríamos que eles fossem. No final de tudo, se há culpados, somos nós que desejamos demais, que esperamos demais, que idealizamos demais...

4 comentários:

  1. Cheguei por indicação de uma amiga ao seu blog e de cara encontro essa pérola. Me ajudasse a entender pq essa coisa de ter muitas expectativas sobre outra pessoa não é bom. as pessoas não são sinceras. quando menos esperamos agente descobre que eles escondem coisas da gente. mas é mesmo culpa nossa como você disse pois nos deixamos enganar na esperança de que a pessoa seja diferente das outras. Voltarei aqui para ler mais.boa semana.

    ResponderExcluir
  2. Tem certeza de que o título desse texto deveria ser "Expectativas"? Lu...

    ResponderExcluir
  3. Lu, que "expectativa" você teria em relação ao que deveria ser o título deste texto?

    ResponderExcluir

Deixe seu comentário, sua sugestão, sua crítica!