quinta-feira, 20 de junho de 2013

JOVENS ENSINAM NOVO PARADIGMA DA LIDERANÇA




“Não existe nada mais prático do que uma boa teoria”.

 Frase de Kurt Lewin que minha orientadora no mestrado, a Profa. Sônia Calado Dias, não se cansa de repetir. Pois bem, não que eu tivesse dúvidas, muito pelo contrário, mas hoje vi isso acontecendo in loco durante as manifestações que ocorreram em Recife.

Quando dou aula sobre liderança eu sempre começo com a base teórica que afirma que duas premissas são essenciais à liderança:

1. que existam liderados; e
2. que os liderados reconheçam a liderança.

Pode parecer óbvio, e é, porém na prática gerencial do dia-a-dia muitos esquecem das obviedades. Não significa em nenhuma hipótese que na prática a teoria seja outra, pois como disse no começo, faço côro com Kurt Lewin. O que acontece é que o discurso é um e a prática (que esquece a teoria, a boa teoria para ser mais claro) é outra.



Na cena mais forte que assisti na passeata de hoje, um grupo formado por militantes do PT, do PCdoB, da CUT e da UNE, com bandeiras de seus partidos e/ou movimentos, foi cercado pela multidão que os forçou a baixar as bandeiras sob gritos de acusação (oportunistas!) e de súplica (sem partido!). A foto que tirei e vai em anexo mostra os militantes partidários atônitos ante à ação da multidão. Quiseram claramente se aproveitar da força do movimento, pegando carona e quiçá desejando assumir o protagonismo do manifesto, mas o povo não deixou. E o espanto deles acontece justo porque se esqueceram da obviedade de que para liderar é preciso ter liderados que reconheçam a liderança.

E por que o povo não mais reconhece a liderança desses movimentos? A resposta é ainda mais óbvia. Eles deixaram de representar o povo. Pensaram apenas em manter-se no poder, em fazer negociatas, em se infiltrar nos sindicatos e entidades de classe que se calaram ante às injustiças cometidas pelos governos dos quais são, aí sim, representantes. O que aconteceu não deveria deixá-los atônitos por terem sido isolados, pois eles próprios se isolaram das necessidades do povo. Emudeceram diante de toda a corrupção, deixaram um Renan Calheiros assumir a presidência do Senado, fecharam os olhos ante a condenação dos mensaleiros, deixando inclusive alguns deles nas principais comissões do Senado e da Câmara.

Dirão que outros partidos que assumiram o poder antes fizeram a mesma coisa ou pior, como se a política do “somos os menos ruins” justificasse. Dizer que os outros também roubavam é vergonhosamente assumir que estão roubando também, que são, como na expressão popular, “farinha do mesmo saco”.

 Mas o pior dos crimes talvez seja o de roubar sonhos. Quando subiram ao poder numa “onda vermelha”, fizeram o povo acreditar que um Brasil novo e livre da corrupção seria possível. Muitos com lágrimas nos olhos viram seus sonhos se tornarem realidade para depois, com mais lágrimas nos olhos perceberem que o sonho real era na verdade um grande pesadelo.

O que eu vi hoje não foi ausência de lideranças e sim, justamente o contrário. Vi uma multiplicidade de lideranças. Vi centenas de jovens líderes a frente de centenas de pequenos grupos, protestando por um mundo melhor. Representantes, estes sim, dos anseios do povo simples, do povo de classe média, do povo acuado por uma alta carga tributária, do povo que quer escola, do povo que sofre nos hospitais, do povo que é visto com preconceito, do povo que não tem emprego, do povo que simplesmente quer ter o direito de ter uma vida digna sem ter que sustentar uma corja de políticos, de todos os partidos (por isso o grito/súplica de “sem partidos!”), corruptos, que riem do povo e se esbaldam com o dinheiro ganho de forma suada por quem realmente trabalha.

Não é uma ausência de lideranças. É sim uma multiplicidade de lideranças. O que deixa os políticos em uma “sinuca de bico”, porque os seus representantes partidários e militantes não podem ser subornados. Não dá para “comprar” toda uma multidão. Aí ficam querendo enfraquecer o movimento dizendo que os manifestantes estão difusos, que não sabem o que querem, que não têm lideranças, que não podem negociar.

O que eu vi na verdade, esperançoso, foi se concretizar na passeata, um modelo que alguns teóricos há algum tempo insistem que será o mais adequado para a liderança na era do conhecimento, na era digital: o modelo teórico que surge da metáfora de organizações como bandas de jazz. Não é desorganização, mas sim uma organização que segue um novo paradigma, uma nova forma de atingir os objetivos.

Posso estar sendo prematuro. É possível! Mas se todo mundo por aí faz prognósticos, quero fazer também o meu. Então escrevam aí: temos mais a aprender em termos de liderança com  essa juventude que está indo às ruas do que a ensinar, até porque serão eles que vão desenhar as organizações do futuro. Ou melhor, eles já estão desenhando o futuro, hoje.

O “liderar” do #vemprarua vai se transformando rapidamente no”liderar” que  #vemdarua.

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