Têm sido noites escuras, sem lua... Ao menos a procurei esses dias,
digo, noites e não a encontrei. Como consolo é possível ver mais estrelas no
céu. Mas começo pelo meio, não cheguei ao tema das estrelas pela observância do
céu, mas por uma série de fatos que aconteceram esses dias e que culminaram na
missa que assisti nesta noite de domingo.
A missa era da solenidade da ascensão do Senhor. Tanto a
primeira leitura quanto o evangelho trazem a passagem do Jesus ressuscitado
voltando para o Pai, subindo aos céus e dando aos discípulos a missão de levar
o evangelho a todas as criaturas. E eu lá, na igreja, pensando exatamente sobre
isso, sobre essa missão de cada um de nós.
Evangelho, palavra derivada do grego, significa "boa
notícia". E fiquei pensando quão falhos nós somos em espalhar boas
notícias. Nos parece ser muito mais fácil falar sobre coisas ruins, falar mal
das outras pessoas, comentar sobre tragédias, acidentes, doenças... Não à toa o
jornalismo, guiado pelos índices de audiência, acaba por preferir notícias
ruins do que boas, já que essas últimas parecem não ser tão
"lucrativas".
Alguns acham que a missão dada por Jesus tem a ver com
pregações públicas, tentativas de conversão, demonstração de religiosidade ou
mesmo martírio. Posso estar enganado e até estar sendo minimalista, mas creio
firmemente que essa missão, a de levar o evangelho, a boa nova, passa por levar
coisas boas às pessoas, trazer sempre uma luz, uma mensagem de força, coragem e
fé, um testemunho do "falar bem" das pessoas, das coisas, dos fatos
da vida. E encontro argumentos na segunda leitura de hoje. Curioso que na
igreja, pouco antes da missa começar, me pediram para fazer essa leitura. Eu
lendo ali, na minha paróquia de origem, é fato que não acontecia há mais de 10
anos, desde que falei "verdades" demais e o padre da paróquia acabou
me pondo pra fora da igreja. Mas isso é outra história (e longa), quem sabe um
dia a lua não resolve contá-la...
Mas voltando à minha linha de raciocínio, nesta segunda
leitura, Paulo pede para que "nos suportemos uns aos outros com paciência,
no amor". Pena que na tradução e no nosso modo de falar de hoje, as
pessoas não se apercebam que o sentido da palavra "suportar" não é o
de "aturar", mas sim o de dar suporte, dar apoio uns aos outros, dar
força um para o outro, o que requer paciência, mas sobretudo amor. Aquele que
ama sempre fala coisas boas sobre e para o ser amado. Amar uns aos outros é,
portanto, apoiar, ser paciente, oferecer ao outro a boa nova da vida que se
apresenta, do dom que Deus nos dá a cada nascer do sol.
E o sol é uma estrela e as estrelas que vemos no céu são
sóis distantes, alguns até que já não mais existem e que apenas sua luz nos
chega até nossos dias. Assim, olhar para o céu não deixa de ser um olhar sobre
o passado. Aí pensando em céus, estrelas, sóis, me lembrei de um fato curioso
de minha infância. De madrugada, vendo TV, assisti ao final de um episódio daquela
série bem antiga chamada "Além da Imaginação". Eram as últimas cenas,
e se passavam numa nave espacial que voltava para a Terra após descobrir um
planeta que havia sido habitado milênios antes por uma civilização avançadíssima
e que havia sido destruído pela explosão de seu sol. A última cena era um
padre, que fazia parte da tripulação questionando a Deus o por quê daquele povo
ter sido extinto pela explosão do sol, que pelas contas dele [o padre] foi
justo a luz da sua explosão que dois mil anos antes pairou sobre Belém
anunciando a chegada do Messias. Descobri pesquisando a pouco na Internet
(incrível o que se consegue achar no google) que trata-se de um conto chamado
"A Estrela" do Arthur Clark, o mesmo autor de "2001, Uma Odisseia
no Espaço". Pra quem se interessar, o conto (curtinho!) pode ser
encontrado AQUI.
Está bem que é só um conto, mas me veio à memória porque me
marcou à época e acabou vindo à tona novamente ao pensar sobre tudo que é
preciso acontecer para que algumas coisas se tornem uma "boa
notícia". Algumas vezes a boa notícia surge justamente de notícias ruins e
que é quase uma opção nossa ressaltar os aspectos negativos (o que acabamos
fazendo com frequência) ou buscarmos o lado bom, o lado positivo, o lado luz,
que ilumina. Além disso, parte do confiar em Deus encontra-se nesse entregar-se
aos seus planos, confiando que mesmo aquilo que aparentemente é ruim, loucura
ou contradição, um dia vá trazer luz para alguém. Por vezes nem percebemos, mas
sempre há perto de nós alguém que precisa de uma luz, luz que temos dentro de
nós e que, em não raras vezes, surge das "explosões" pessoais que
acontecem em nossa vida.
Felizes os que
conseguem transformar dor em luz, tragédias em sucesso, doença em cura, tristeza
em força e confusão em vida, levando ao próximo, à toda criatura, a boa nova do
amor.
P.S.: ao procurar uma imagem para ilustrar esta postagem, achei um outro conto (mais lúdico esse) que é bem síncrono ao que acabei de escrever. Quem desejar ler sobre "O Choro da Estrela", leia AQUI.
Lindo mesmo Luiz
ResponderExcluirTb estive na igreja ontem...
Ótima maneira de iniciar a semana.
Muita luz
Patricia Oliveira
Às vezes escolhemos suportar as estrelas, em vez de viver a completude da lua. Eis uma questão de amor, o amor ágape. Se não formos capazes de apreciar os pontos que se ligam, a boa nova parece dor, ininteligível.
ResponderExcluirE quanto à lua... Bom, ela por vezes se esconde para que possamos apreciar o brilho sutil das estrelas. E quando ela volta a brilhar no céu, nos percebemos vislumbrando o manto estrelado. E a lua? Coadjuvante! Talvez, o ponto no seu que guia em direção às estrelas.
Às vezes escolhemos suportar as estrelas, em vez de viver a completude da lua. Eis uma questão de amor, o amor ágape. Se não formos capazes de apreciar os pontos que se ligam, a boa nova parece dor, ininteligível. E o "suportar" ganha o sentido habitual... O viver no "piloto automático".
ResponderExcluirE quanto à lua... Bom, ela por vezes se esconde para que possamos apreciar o brilho sutil das estrelas. E quando ela volta a brilhar no céu, nos percebemos vislumbrando o manto estrelado. E a lua? Coadjuvante! Talvez, o ponto no seu que guia em direção às estrelas.
**céu
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