segunda-feira, 21 de maio de 2012

A ESTRELA


Têm sido noites escuras, sem lua... Ao menos a procurei esses dias, digo, noites e não a encontrei. Como consolo é possível ver mais estrelas no céu. Mas começo pelo meio, não cheguei ao tema das estrelas pela observância do céu, mas por uma série de fatos que aconteceram esses dias e que culminaram na missa que assisti nesta noite de domingo.

A missa era da solenidade da ascensão do Senhor. Tanto a primeira leitura quanto o evangelho trazem a passagem do Jesus ressuscitado voltando para o Pai, subindo aos céus e dando aos discípulos a missão de levar o evangelho a todas as criaturas. E eu lá, na igreja, pensando exatamente sobre isso, sobre essa missão de cada um de nós.

Evangelho, palavra derivada do grego, significa "boa notícia". E fiquei pensando quão falhos nós somos em espalhar boas notícias. Nos parece ser muito mais fácil falar sobre coisas ruins, falar mal das outras pessoas, comentar sobre tragédias, acidentes, doenças... Não à toa o jornalismo, guiado pelos índices de audiência, acaba por preferir notícias ruins do que boas, já que essas últimas parecem não ser tão "lucrativas".

Alguns acham que a missão dada por Jesus tem a ver com pregações públicas, tentativas de conversão, demonstração de religiosidade ou mesmo martírio. Posso estar enganado e até estar sendo minimalista, mas creio firmemente que essa missão, a de levar o evangelho, a boa nova, passa por levar coisas boas às pessoas, trazer sempre uma luz, uma mensagem de força, coragem e fé, um testemunho do "falar bem" das pessoas, das coisas, dos fatos da vida. E encontro argumentos na segunda leitura de hoje. Curioso que na igreja, pouco antes da missa começar, me pediram para fazer essa leitura. Eu lendo ali, na minha paróquia de origem, é fato que não acontecia há mais de 10 anos, desde que falei "verdades" demais e o padre da paróquia acabou me pondo pra fora da igreja. Mas isso é outra história (e longa), quem sabe um dia a lua não resolve contá-la...

Mas voltando à minha linha de raciocínio, nesta segunda leitura, Paulo pede para que "nos suportemos uns aos outros com paciência, no amor". Pena que na tradução e no nosso modo de falar de hoje, as pessoas não se apercebam que o sentido da palavra "suportar" não é o de "aturar", mas sim o de dar suporte, dar apoio uns aos outros, dar força um para o outro, o que requer paciência, mas sobretudo amor. Aquele que ama sempre fala coisas boas sobre e para o ser amado. Amar uns aos outros é, portanto, apoiar, ser paciente, oferecer ao outro a boa nova da vida que se apresenta, do dom que Deus nos dá a cada nascer do sol.

E o sol é uma estrela e as estrelas que vemos no céu são sóis distantes, alguns até que já não mais existem e que apenas sua luz nos chega até nossos dias. Assim, olhar para o céu não deixa de ser um olhar sobre o passado. Aí pensando em céus, estrelas, sóis, me lembrei de um fato curioso de minha infância. De madrugada, vendo TV, assisti ao final de um episódio daquela série bem antiga chamada "Além da Imaginação". Eram as últimas cenas, e se passavam numa nave espacial que voltava para a Terra após descobrir um planeta que havia sido habitado milênios antes por uma civilização avançadíssima e que havia sido destruído pela explosão de seu sol. A última cena era um padre, que fazia parte da tripulação questionando a Deus o por quê daquele povo ter sido extinto pela explosão do sol, que pelas contas dele [o padre] foi justo a luz da sua explosão que dois mil anos antes pairou sobre Belém anunciando a chegada do Messias. Descobri pesquisando a pouco na Internet (incrível o que se consegue achar no google) que trata-se de um conto chamado "A Estrela" do Arthur Clark, o mesmo autor de "2001, Uma Odisseia no Espaço". Pra quem se interessar, o conto (curtinho!) pode ser encontrado AQUI.

Está bem que é só um conto, mas me veio à memória porque me marcou à época e acabou vindo à tona novamente ao pensar sobre tudo que é preciso acontecer para que algumas coisas se tornem uma "boa notícia". Algumas vezes a boa notícia surge justamente de notícias ruins e que é quase uma opção nossa ressaltar os aspectos negativos (o que acabamos fazendo com frequência) ou buscarmos o lado bom, o lado positivo, o lado luz, que ilumina. Além disso, parte do confiar em Deus encontra-se nesse entregar-se aos seus planos, confiando que mesmo aquilo que aparentemente é ruim, loucura ou contradição, um dia vá trazer luz para alguém. Por vezes nem percebemos, mas sempre há perto de nós alguém que precisa de uma luz, luz que temos dentro de nós e que, em não raras vezes, surge das "explosões" pessoais que acontecem em nossa vida.

Felizes os que conseguem transformar dor em luz, tragédias em sucesso, doença em cura, tristeza em força e confusão em vida, levando ao próximo, à toda criatura, a boa nova do amor.

P.S.: ao procurar uma imagem para ilustrar esta postagem, achei um outro conto (mais lúdico esse) que é bem síncrono ao que acabei de escrever. Quem desejar ler sobre "O Choro da Estrela", leia AQUI.

4 comentários:

  1. Lindo mesmo Luiz
    Tb estive na igreja ontem...
    Ótima maneira de iniciar a semana.

    Muita luz

    Patricia Oliveira

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  2. Às vezes escolhemos suportar as estrelas, em vez de viver a completude da lua. Eis uma questão de amor, o amor ágape. Se não formos capazes de apreciar os pontos que se ligam, a boa nova parece dor, ininteligível.

    E quanto à lua... Bom, ela por vezes se esconde para que possamos apreciar o brilho sutil das estrelas. E quando ela volta a brilhar no céu, nos percebemos vislumbrando o manto estrelado. E a lua? Coadjuvante! Talvez, o ponto no seu que guia em direção às estrelas.

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  3. Às vezes escolhemos suportar as estrelas, em vez de viver a completude da lua. Eis uma questão de amor, o amor ágape. Se não formos capazes de apreciar os pontos que se ligam, a boa nova parece dor, ininteligível. E o "suportar" ganha o sentido habitual... O viver no "piloto automático".

    E quanto à lua... Bom, ela por vezes se esconde para que possamos apreciar o brilho sutil das estrelas. E quando ela volta a brilhar no céu, nos percebemos vislumbrando o manto estrelado. E a lua? Coadjuvante! Talvez, o ponto no seu que guia em direção às estrelas.

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