Postagens no Facebook, chamadas no Twitter, notícias nos principais portais, enfim, o assunto online
da madrugada era a passagem de cerca de 95 meteoritos pelo céu nordestino
durante esta madrugada. Na verdade, aerólitos, nome mais exato segundo os
astrônomos, para os restos de meteoros que se queimariam ao entrar em contato
com a atmosfera terrestre, causando um efeito de estrelas caindo do céu, de
onde vem o nome mais popular: estrelas cadentes. Reza a lenda que quem avista
uma “estrela cadente” pode fazer um pedido.
Tudo parecia favorável. Morando
em Olinda, cidade litorânea nordestina. Janela da casa voltada para o norte,
por onde passariam os tais aerólitos. Insônia à hora programada para o “espetáculo”
(uma verdadeira “chuva de estrelas”). 95 pedidos por fazer (embora eu só
precisasse na verdade de um único) e... e... e... nada! Pois é, não consegui avistar nenhuma única
estrela cadente. Isso, olhando para o céu por quase uma hora e meia. Fui até o Twitter ver se os outros estavam vendo o
que eu não via e pra minha surpresa, gente em cidade a menos de 150km presenciando
um show. Baixei pelo celular um aplicativo android
que é uma bússula para ver se a frente da minha janela dava mesmo para o norte
ou se eu estava desnorteado. Não estava, o norte era ali mesmo. E em meio à
espera das tais estrelas em queda, em meio à busca de explicações mais físicas,
mais astronômicas, comecei a divagar em pensamentos, tentando descobrir alguma
sincronicidade no que estava acontecendo, ou melhor, no que não estava
acontecendo.
E aí veio um clarão! Não, não
era uma estrela cadente. Era uma inspiração para escrever minha primeira
postagem no novo ano de 2012. É incrível como olhar para o céu por mais de uma
hora pode trazer à tona tantas ideias, algumas boas, outras nem tanto, mas ainda
assim, supostamente, ao menos pra mim, interessantes. Acho que por isso o
Domenico Demasi defende o “ócio criativo”. Em meio aos afazeres do dia,
preocupados demasiadamente com o trabalho que nos espera, com o tanto de coisas
que dependem de nós, em meio às “dores de cabeça” cotidianas, simplesmente
acabamos não deixando tempo para que a inspiração divina ou humana (escolham
qualquer uma, pra mim é a mesma) flua em nós. Já contei aqui neste blog como a
lua me ensinou a importância de olhar mais para a natureza, mas confesso que
fiquei extasiado apenas com a beleza da lua e das histórias que ela passou a me
contar sobre as pessoas que observava. Hoje, de onde eu estava, voltado para o
norte (até dor no pescoço me deu de ficar na mesma posição por tanto tempo),
mesmo olhando de soslaio para o leste e para o oeste, não dava para ver a lua, mas
dava pra ver as estrelas, o céu ao fundo, nuvens soprando-se de lá pra cá, e
percebi a importância do contexto, coisa que o pessoal da Gestalt na psicologia e da Pragmática na linguística, já chamava
atenção há tempos.
A não presença da lua, que
devia estar dormindo ou vendo o show das estrelas cadentes de onde se escondia,
acabou por ser o elemento motivador dessa minha reflexão sobre o contexto.
Tentar entender a lua fora de seu contexto é um grande erro. Eu mesmo admiti a
pouco que ela tentou me alertar para a natureza como um todo e eu acabei
fixando minha atenção apenas em seu brilho e em suas histórias. Só que tudo na
lua, inclusive seu luar prateado e as tantas coisas que consegue observar de lá
de cima, dependem do contexto no qual ela está inserida, ou seja, das estrelas que
gravitam em seu entorno (os literais, que esquecem exatamente do contexto, por
favor, não me venham falar que estrelas não gravitam em torno da lua, porque eu
não estou falando de astronomia e sim de poesia), das nuvens que ora encobrem a
sua luz, ora deixam passagem para inundar-nos com sua beleza, e havia também o
vento, as árvores, as casas avizinhadas, ao longe sons variados apesar do
silêncio noturno e, não menos importante, a expectativa de um aerólito cruzar o
céu de fundo, o que influencia, e muito, a forma como a gente observa o mundo.
Concluí que querer entender a
lua sem levar em consideração tantos fatores, tantas fases, é mesmo muita
pretensão, presunção até. Apenas a paciência, coisa que nunca tive em estoque, parece
ser a chave para compreender não apenas a lua, mas principalmente o mundo que a
cerca, que só faz sentido também, gestáltica, pragmática e empiricamente, com a
presença dela. Tudo se completa, tudo se liga, tudo faz sentido quando nos
permitimos ter a devida paciência, o devido tempo para observar os detalhes,
observar o texto e o contexto, o ponto e o contra-ponto, o fundo e a figura. A
racionalidade cartesiana que nos tirou um pouco da magia do “todo” ao nos
chamar a atenção apenas para a “parte”, precisa ser revista. Tem sua validade,
o que não exclui, porém, que nem sempre tudo funciona de forma assim tão cartesiana como, por exemplo,
se sentar à beira de uma janela, em uma dada hora, com o olhar voltado para uma
certa direção, contar umas tantas 95 estrelas cadentes e fazer uns tantos 95
desejos diferentes. Por vezes, a magia está quando nos deitamos de forma
incomum na cama, em um horário não planejado, com olhos fechados, sem paciência
para contas e achando que desejos não são realizáveis. Por vezes a magia
acontece assim mesmo, apesar de nossas resistências, de nossos problemas, de
nossas dores. Às vezes ela nos chega por um simples toque, num espaço de não
mais que um minuto, quando nos permitimos respirar sozinhos ou com a ajuda de
alguém, quando permitimos que o outro seja solidário em nossas dores, quando
entendemos que o “nós” está dentro de um contexto maior do qual o outro também
faz parte, quer queiramos ou não.
Eu não vi a chuva de estrelas,
mas vi o que apenas a expectativa da
passagem delas pode trazer. Acho que entendo um pouco melhor a alegria dos reis
magos ao avistarem a estrela do oriente que trouxe o Menino Jesus. Mas bem,
isso já faz parte de uma outra ideia que tive vendo o “no show” das estrelas cadentes e que, se tudo der certo, dia 6 de
janeiro, dia da festa de reis, dia da epifania do Senhor, se transformará em
mais uma postagem desse blog.
When you wish upon a star,
ResponderExcluirmakes no difference whou you are,
when you with upon a star,
your dreams come true.
I´ve always loved contemplating them, these little witnesses of our passions down here, loved getting lost in thoughts of who lives there and watches me back. Whenever I was away from home, I turned to them in hopes the ones I loved were somewhere, at the same time, looking at them , sharing the same view and thinking of me. Looking at them makes me feel part of the whole. Thanks for the post, dearest!
M.