Ontem foi dia (noite) de eclipse da lua. Há os que não acreditam
em mistérios. Respeito! Até porque já fui cético e racionalista em demasia. Mas
hoje me dou, ao menos, o benefício da dúvida. O simples fato de que pessoas no
mundo inteiro pararam um pouco para receber as energias do eclipse, já é um
pequeno grande mistério. Por alguns momentos, muitos deixaram de lado as
preocupações mundanas, o natural egocentrismo que nos caracteriza tanto, para
pensar além, vibrar energia positiva, gestar coisas boas. Ainda que seja tudo
ilusão, ainda assim será real a magia da mudança do momento. Como disse a
pouco: um pequeno grande mistério.
Dias atrás quando vi a primeira notícia sobre o eclipse,
percebi que no dia/horário estaria em um sítio, no sertão de Alagoas, que têm
aqueles céus que fazem jus à música Luar do Sertão. Pensei: terei visão
privilegiada! Na manhã de ontem, soube que em Recife/Olinda chovia e o tempo era
nublado, enquanto isso, onde eu estava, apenas poucas nuvens eram vistas no
céu. Assim, tive certeza de estar no lugar certo. Bastava apenas esperar. Mas
no meio da tarde os ventos passaram a não ser mais tão favoráveis. Na hora do
eclipse, em Recife/Olinda o céu abriu e no sertão de Alagoas... nuvens escuras
cobriam todo o céu. Frustração? Sim! Mas também é mágico perceber que o tempo
muda, as coisas mudam, os ventos mudam. Uma hora sopram a favor; em outros
momentos, contra. Aprender que não se pode ter certezas absolutas e que as
situações mudam talvez seja o maior dos aprendizados e nos fazem honrar o
momento presente.
Passar o dia inteiro monitorando o céu, descobrindo os
pontos cardeais é bem interessante por si só. A gente aprende a observar e a
respeitar a natureza, a criação, o criador e até mesmo a nós, criaturas. Mas há
outras coisas legais como explicar o que é um eclipse para crianças com duas
moedas e a lanterna do celular e ver, no olhar delas, aquele espanto ante o
extraordinário que não temos mais depois de crescidos. Astros que se “penduram”
no universo sob uma força que chamam de gravidade (mas que nem a Física sabe
mesmo o que é, e como acontece), se alinhando e se projetando uns sobre os
outros e nós, em nossa superficialidade, nos sentindo superiores ao mistério
maior, perdendo as bênçãos da magia universal.
Por fim, mesmo diante de nuvens escuras, também é mágico se
perceber feliz por saber que em algum lugar ali, naquele céu fechado havia uma
lua, um mistério, um eclipse, sorrindo pra gente, entendendo enfim a sensação
do aviador do livro do Antoine de Saint-Exupery sobre o sorriso do pequeno
príncipe estar em algum lugar do céu imenso.
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