quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Ainda no Mundo da Lua


É quase uma unanimidade entre professores, alunos e ex-alunos de programas de pós-graduação, que ler ou escrever sobre temas não necessariamente técnicos ajuda a manter a sanidade, principalmente em cursos de doutorado. Eu também concordo e de certa forma este blog tenta cumprir um pouco esse objetivo. Mas como conseguir escrever para manter a sanidade quando se tem que passar o feriado todo nas ilustres companhias de Wittigenstein, Austin, Robbins, Clegg e Weber?  Já são mais de três semanas desde minha última postagem e, desta vez, definitivamente não foi por falta de inspiração que eu não passei aqui para escrever. Tantas foram as ideias (e ainda são) que algumas delas se perderam na longa estrada do tempo que as transformam em quase nada, só para parafrasear o Rei, que, pelo que eu soube, depois de fazer show em alto mar, resolveu fazer show na terra santa, o que não tem absolutamente nada a ver com os meus propósitos neste texto, mas que ilustram bem a (des)ordem dos devaneios que me acometem, especialmente depois de ler sobre semântica, atos da fala, valores, atitudes, burocracia e modernidade. Sim, mas onde eu estava mesmo?

Ah, eu queria apenas responder a quem me perguntou se haveriam mais histórias contadas pela lua. Na verdade, boa parte do que eu quis escrever aqui e não consegui por absoluta falta de tempo, foram coisas contadas por ela. Nossa comunicação está cada vez mais frequente, tanto que pela primeira vez em quase 35 anos de vida eu estou percebendo verdadeiramente as sutis mudanças de fase pelas quais ela passa, sem precisar recorrer a algum calendário para saber em em que forma ela se encontra. Percebi  assim, que a divisão em quatro fases é meramente didática, pois a cada dia ela me aparece de maneira diferente do nosso encontro anterior. Logo depois que publiquei aqui nossa primeira conversa, ela pareceu meio enciumada, me olhando de soslaio, por entre as nuvens, chegando mesmo a se esconder por trás dos armazéns lá do Marco Zero recifense. Sei lá, ela parecia não ter gostado que eu tenha compartilhado nossa conversa por meios eletrônicos. Foi uma fase de silêncio, mas talvez ela estivesse apenas pensando sobre que histórias me contaria. Passada essa fase minguante, em que ela parecia perder suas forças (e eu juntamente com ela),  chegado um certo momento, ela pareceu se renovar de alegrias e me contou o que observara na fase em que seu brilho diminuiu. Segundo ela, é nessa sua fase mais obscura que consegue refletir mais, que consegue melhor analisar as pessoas lá do alto, até porque ela costuma, nesse período, passar meio que despercebida da maioria de nós (e nessa hora ela me piscou o olhar de forma, paradoxalmente, brincalhona e inquisidora, de modo que facilmente fiz meu mea culpa) e assim as pessoas costumam se comportar de forma mais natural, sem a intenção de impressioná-la ou mesmo de impressionar outras pessoas usando-a como instrumento. Provavelmente por isso quase não são feitas poesias, cartas de amor, canções e reflexões sobre a lua minguante. Mas ela não me falou isso com mágoa, muito pelo contrário, quis apenas me mostrar que não só ela, mas que todos nós precisamos de nossos momentos de obscuridade para melhor refletir. No dia em que ela estava mais simpática, seus contornos na posição atual do céu nitidamente sorriam para mim, um sorriso tênue que com o passar dos dias foi ficando, crescentemente, mais largo. Ela parecia gostar cada vez de minha companhia e eu, que antes não a percebia, ficava cada vez mais encantado com suas mudanças e suas muitas histórias.

Não, não será hoje ainda que eu compartilharei com vocês algumas dessas histórias, mesmo porque eu preciso refletir antes para poder transcrevê-las em palavras, sem contar que essa crônica falta de tempo acaba atrasando tudo ainda mais. Todavia, como me fez questão de lembrar a própria lua, há um livro considerado sagrado por muitos e que ela adora porque é dele personagem desde a sua gênese, que contem dentro de si um livrinho menor chamado Eclesiastes, que significa algo como “aquele que fala à assembleia” ou mesmo “professor”, o qual ensina (é, faz mesmo sentido então a etimologia da palavra) que para tudo existe tempo debaixo do céu. Tempo disso, tempo daquilo.  E o tempo de escrever essas histórias ainda chegará. Por enquanto eu vou apenas olhando ela se encher de luz já que certas coisas eu não sei ainda dizer.

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