Em meio às notícias diárias que
têm por mote os casos de corrupção na política brasileira, me causou espanto mesmo
foi o caso do zagueiro Rodrigo Caio, jogador do São Paulo, nas semifinais do
campeonato paulista. O cara simplesmente
foi honesto e admitiu para o juiz da partida que quem pisou no goleiro durante
um lance foi ele próprio e não o jogador do outro time que recebeu, inclusive,
inicial e injustamente, cartão amarelo.
Ser honesto deveria ser padrão e
já seria de se estranhar tentar exaltar o fato como quis fazer parte da
imprensa, afinal de contas essa publicidade em torno do fair play só mostra que vivemos numa sociedade decadente que
precisa de bons exemplos para se modificar. Mas não há nada ruim que não possa
piorar. Alguns diretores do time, parte da comissão técnica, certos jogadores
da equipe e parte considerável da torcida têm feito exatamente o contrário:
estão execrando o jogador e usam como argumento a frágil falácia de que os
adversários não fariam o mesmo se fosse o inverso.
Estamos mesmo mal nisso que
chamam de comportamento cidadão. Preferimos a mentira, desde que beneficie
nossa “equipe”, nosso partido, nossa ideologia. Por outro lado, execramos e
condenamos a verdade que surge de nosso meio, se ela expõe nossas fraquezas,
nossas artimanhas, nossas corrupções. Se houver alguma condenação, dizemos, que
seja pelos “juízes” da vida e se pudermos desmoralizar a decisão do juiz, faremos
também.
Inclusive isso me fez lembrar
outro lance de futebol desse mesmo fim de semana. No jogo Sport X Náutico pelas
semifinais do campeonato pernambucano, o time alvirrubro fez um gol legítimo, o
goleiro do time adversário em nenhum momento foi tocado pelo jogador que fez o
gol e o juiz anulou o tento porque, supostamente, viu falta no goleiro. As
câmeras mostraram que não houve falta e obviamente o goleiro da equipe rubro-negra
viu que não foi tocado. O que ele fez? Se dirigiu ao árbitro para corrigir o
equívoco? Não! Simplesmente, tal qual Pilatos, lavou as mãos e continuou o
jogo. E a torcida do time prejudicado? Reclamou do goleiro? Não! Reclamou do
juiz! Chamou o juiz de ladrão e a sua mãe foi, muito certamente, difamada sem o
menor peso na consciência por parte de seus detratores. Talvez o juiz
simplesmente não tenha visto o lance, algo que é uma exigência de sua
profissão, mas que é passível de falha humana, mas pior é quem estava no lance e simplesmente
se cala, mente e se torna cúmplice voluntariamente. Mas a julgar pelo caso do
zagueiro são-paulino talvez seja mesmo o comportamento menos perigoso, apesar
de antiético.
Há uma frase que acredito ser do
Gandhi, onde ele conclui que “olho por olho... e acabaremos cegos”. Não “acabaremos”,
já estamos cegos. Deixamos, por vontade própria de enxergar a verdade e
preferimos nos apegar às mentiras contadas por nossos jogadores, amigos,
políticos, chefes, professores..., porque são “nossos”. Parece que, há muito, esquecemos do ditado
que diz: “não é pra quem se faz, mas de quem se faz”. Adotamos o “amigo meu,
não tem defeitos; inimigo,se não tiver eu arranjo”. Depois ninguém sabe o
porquê vivemos em um período de trevas. Como é difícil ser coerente hoje em
dia... pimenta nos olhos dos outros é sempre refrescante!
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