quarta-feira, 1 de agosto de 2012

CONTOS DA LUA #2: Doze Luas (agosto, 2012)


Esse segundo conto da lua, o primeiro dentro da promessa de que um novo conto seria postado a cada noite de lua cheia, quase não sai na data prevista. Acordei no meio da madrugada e me lembrei que da janela próxima ao meu computador, em determinada altura da noite, é possível ver a lua.  Dito e feito, lá estava ela, linda e maravilhosa. Uma noite de algumas nuvens, mas daquelas que apenas de vez em quando encobrem a lua dando-lhe um aspecto enigmático, silencioso, reflexivo.

Sentei-me no chão, próximo à janela, e fiquei ali admirando-a. Ela sem falar nada, parecia gostar de ser vista em sua completude. Não sei por quanto tempo permaneci no mesmo local, quase imóvel. Foi quando me dei conta que precisava cumprir a promessa dos contos. Só não sabia como e qual, pois foram tantas as histórias e tão belas que merecem ser todas contadas, porém não de qualquer forma, já que são histórias, de todos os tipos, das mais simples às mais inacreditáveis. Precisava de inspiração. Aí, me dei conta, que desde o dia, enfim, que eu olhei (mesmo, de verdade) a lua pela primeira vez, se eu fosse contar a passagem do tempo como os povos primitivos, diria que haviam se passado doze luas desde então.

Mesmo essa história do meu encontro com a lua já ter sido descrita em grande parte na postagem primeira sobre a lua ("Mundo da Lua") alguns fatos anteriores e posteriores podem ser ditos também, de modo que resolvi que o segundo conto da lua seria justo sobre mim e sobre a lua, ou ao menos sobre um pouco de mim e sobre um pouco da lua.

Lembro, como fato anterior, que o nosso encontro foi preparado com antecedência. Eu, como já confessei antes, nunca fui de observar a natureza e a lua nela se incluía. Mas numa noite de julho, eu no sítio de minhas tias no interior de Alagoas, com uma dessas insônias que me é tão comum, com todos tendo dormido muito cedo conforme costume da região, sem ter o que fazer, um tanto quanto entediado, resolvo ficar na cama tentando acessar pelo celular o facebook para ver se conseguia alguma distração para a noite que prometia ser longa. O sinal para variar era péssimo, mas de vez em quando dava um “traço” de cobertura no mostrador do celular e eu conseguia ler ou enviar um inbox, sempre demorando muito entre um e outro. Tentando explicar meu tédio, típico de viciado em tecnologias da modernidade, me disseram com sutileza: “tenta olhar a lua! Dizem que nesses locais ela fica ainda mais linda”. Confesso que o comentário mexeu comigo em algum lugar, mas o meu racionalismo típico tratou de abafar a mudança que já começava a se proceder dentro de mim, uma revolução silenciosa forjada ao longo dos anos a qual eu não atentava muito, apenas preocupado com o lado “sério e responsável” da vida. Mas aquelas palavras foram como sementes do evangelho que caíram em terra boa e acabaram por germinar no dia em que, sorrateira, a lua apareceu diante de mim em todo o seu esplendor, sorrindo de minha cara estupefata por nunca antes tê-la percebido assim. Ela disse que durou o tempo que foi necessário para que a plantinha começasse a nascer e que dali para frente nós dois passaríamos a ter uma relação muito mais próxima, de companheirismo, de cumplicidade até. Eu contaria minhas alegrias e tristezas, minhas histórias repetidas e aquelas que até então permaneciam em segredo, meus medos e minhas realizações, e ela, em troca me contaria histórias das pessoas que ela observou lá do alto durante todos esses anos.

Como fato posterior, que fica claro nas postagens ao longo dessas doze luas, não houve uma única noite onde eu não a procurasse no céu, em cada uma de suas fases, de seus momentos. Algumas vezes a sua posição em relação ao sol ou o tempo ruim não me permitiam vê-la, mas sempre havia a certeza que ela ali estava e que me ouvia e me ajudava a ser uma pessoa melhor. Incrível como observar coisas tão simples como o luar podem nos ajudar a ficar mais próximos de Deus. Lembro nesse instante de um livro de meu escritor preferido, o Rubem Alves, cujo sugestivo título é “O Amor que Acende a Lua”. Livro de crônicas, organizadas em sessões nomeadas com as fases da lua: nova, crescente, cheia e minguante. Numa das crônicas ele defende a necessidade de aulas de “escutatória” ou invés das aulas de oratória. Ele faz uma bela defesa da arte do ouvir, e a certa altura parafraseia um poeta dizendo: “não é bastante ter ouvidos para se ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma”. Sempre falei demais e ouvi de menos, percebi isso com a lua. Antes dela eu, de forma até um pouco arrogante, achava que era um bom ouvinte. Não era! Ela me mostrou que para ouvir de verdade é preciso paciência, contemplação, silêncio. Desde então tenho feito um esforço para ouvir de verdade e nesse exercício tenho percebido porque ela, a lua, sempre tão silenciosa, tem tantas histórias por contar, porque ela sabe ouvir as tantas pessoas que a ela recorrem todas as noites.

Paro um pouco de escrever e me volto para a janela de onde posso vê-la e surpreendentemente não há mais nenhuma nuvem a encobri-la. Ela nada fala dessa vez. Em sua escuta silenciosa deve estar oferecendo sua luz, tomada emprestada do sol, para clarear a vida de tantos de nós que nos encontramos no escuro, depois de dias difíceis onde tudo parece não ter solução. Ela parece querer, com seu brilho estonteante, nos ensinar que também somos luz, que também podemos espalhar essa luz, que ao iluminar o caminho dos outros estamos, também nós, iluminando um pouco o nosso próprio caminho.

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