Conta a história que o próprio
Deus um dia se apaixonou por uma menina pobre de uma terra agreste e com ela
quis ter um filho, um menino, que seria a própria encarnação do amor divino. Agostinho certa vez disse que esse menino
foi tão humano, mas tão humano, mas tão verdadeiramente humano, que só podia
ser Deus.
Gabriel, anjo amigo, fazendo
vezes de cupido, foi até a menina e contou a ela que seu senhor estava por ela
enamorado. Grande susto levou a menina de nome Maria, pois ela não se achava
digna de ser a escolhida.
Suas amigas viviam fazendo
planos e desejando ser a mãe do amor, mas Maria, humildemente se achava indigna
de tal missão e, criada no templo de Deus, apenas fazia seu trabalho, com o
profissionalismo herdado de seus pais, Joaquim e Ana.
Entenda-se profissionalismo
como zelo, carinho, cuidado, respeito, dedicação e amor pelo que faz. Foi justo
esse jeito responsável de ser que atraiu a atenção de Deus para Maria.
Parafraseando uma música que só seria composta anos mais tarde, depois dela, as
outras passaram a ser apenas as outras e só, pois seria ela, a mãe do amor.
Como num poema de Eugénio de Andrade, é urgente o
amor. E nessa urgência de enviar o amor ao mundo, Gabriel foi logo anunciando a
Maria que ela estava grávida do amor de Deus. Ela ficou confusa. Gabriel a
acalmou. O amor não é só algo do corpo, é também da alma, da mente e do
coração.
E Gabriel, anjo bom de
mensagens, deu mais um recado àquela menina: sua prima, Isabel, que todos
diziam estéril, estava no sexto mês de gestação. Maria rapidamente fez as
contas e soube que Izabel precisaria de ajuda na hora do parto e se pôs,
abnegadamente, a caminhar em direção à casa da prima.
Ela era a mãe do amor, mas ser
mãe do amor é o mesmo que servir. A honraria vem não por um status quo, mas pela disponibilidade ao
serviço. Chegando lá foi recebida por uma Izabel alegre e pelo filho dela, que
na barriga vibrou de alegria. O senhor fez maravilhas naquelas duas mulheres,
as fez mãe.
E completado o tempo para o
nascimento do Deus-Amor, após longa viagem até Belém, sob a luz radiante de uma
estrela, com animais em volta de uma cocheira, único lugar disponível na cidade, eis que um menino rompe a madrugada com seu
choro forte de anúncio de um novo tempo. A boa nova foi contada primeiramente
aos mais pobres e só depois aos doutores e intelectuais.
Maria, com seu filho Deus-Amor
nos braços, entoou uma canção de ninar e um coro de anjos à capela, backvocal celestial, deu o tom da melodia que
embalou os sonhos do menino. Dorme em paz, menino; dorme em paz, amor. Porque o
tempo da urgência dá lugar ao tempo da experiência.
Que neste Natal vivamos a
experiência de aproximar as pessoas, de dar recados de amor e de comunicar boas
novas, como fez Gabriel.
Que neste Natal vivamos a
experiência de sermos o melhor naquilo que fizermos, unindo profissionalismo e
poesia, que aceitemos com alegria e desprendimento a responsabilidade que nos
cabe e que nos empenhemos mais em servir do que em sermos servidos, como fez
Maria.
Que neste Natal vivamos a
experiência da escolha, do amor, da geração da vida e da doação , como fez o
próprio Deus.
Que neste Natal vivamos a
experiência de comunicar as nossas boas notícias, nossas novidades, em primeiro
lugar às pessoas mais simples, que costumam acolher o novo com alegria e
esperança, sem repreensões e sem julgamentos como fazem aqueles que se julgam
superiores por um título acadêmico ou por uma posição social mais elevada.
Que neste Natal vivamos a
experiência de sonhar com um mundo melhor, mais justo, mais fraterno, enfim, um
mundo com amor, com muito amor, para sempre.
Feliz Natal!
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